As empresas precisam colocar em prática, com urgência, estratégias que não só atraiam talentos, mas também os retenham em seus talentos organizacionais. Esse tem sido o maior desafio do employer branding: esse conceito de criação de uma marca atraente vem mudando de foco para dar conta de um problema crônico no mercado de trabalho — o da evasão de profissionais.
O tamanho da dificuldade pode ser expresso em números. Segundo dados recentes da consultoria global O.C. Tanner, 80% dos trabalhadores, a nível global, se sentem negligenciados e subvalorizados; metade dessas pessoas avalia que suas organizações as tratam como dispensáveis, e isso faz com que careçam de comunicação e senso de comunidade. Nesse contexto, um estudo global da McKinsey, chamado “Grande Evasão ou Grande Atração: a escolha é sua”, mostrou que aproximadamente 40% dos colaboradores em todo o mundo consideravam deixar seus empregos nos meses seguintes devido à falta de suporte gerencial e oportunidades de crescimento.
Corrigir essa rota e evitar a alta rotatividade exige das empresas “ir além das tradicionais campanhas de marketing”, determina Roberta Rosenburg, especialista em capacitação e desenvolvimento de liderança e CEO da F.Lead, consultoria de desenvolvimento profissional. “É preciso investir em uma cultura organizacional sólida e humanizada. A experiência do colaborador deve ser tratada como prioridade estratégica, com foco no aculturamento organizacional, no desenvolvimento contínuo e na construção de um ambiente que promova bem-estar, a inclusão e a equidade”, indica.
Essa percepção é corroborada por relatórios como o da O.C. Tanner, que apontou que empresas com culturas organizacionais fortes e humanizadas têm 24% menos rotatividade de funcionários. Porém, “muitos líderes ainda estão presos a um modelo de gestão que prioriza o desempenho em detrimento do bem-estar dos colaboradores”, pontua Roberta. “Isso já não é mais aceito, ambos precisam andar juntos (desempenho e bem-estar).”
Como conquistar e manter os profissionais nas empresas?
Além da experiência do colaborador, que é um dos principais, senão o maior e mais crítico aspecto do employer branding, empresas que oferecem um ambiente de trabalho no qual os funcionários se sintam valorizados, respeitados e apoiados terão uma vantagem competitiva. Isso inclui um foco maior na saúde mental, no equilíbrio entre vida pessoal e profissional e na flexibilidade, seja por meio de modelos híbridos ou remotos de trabalho.
Para Roberta, outros aspectos e tendências importantes para a retenção de talentos incluem:
- Tecnologia e personalização: A personalização será uma tendência dominante, impulsionada por avanços tecnológicos. Ferramentas de inteligência artificial e análise de dados permitirão que as empresas personalizem a experiência do colaborador desde as práticas de recrutamento até o desenvolvimento de carreira. Cada colaborador será tratado como um indivíduo, com programas de desenvolvimento personalizados, caminhos de carreira claros e oportunidades de aprendizado contínuo. Na hora de constituir essas trilhas de evolução, as companhias devem focar mais em funções desempenhadas que em processos para soluções genéricas. Mas, para tanto, precisam aprender a alinhar as capacidades humanas com os avanços tecnológicos: apenas 9% de 14 mil líderes corporativos entrevistados pela Deloitte em 95 países relataram progressos na obtenção desse equilíbrio.
- Oportunidades de desenvolvimento: funcionários que são incentivados pelos líderes a desenvolver suas competências mostram-se mais satisfeitos e têm quatro vezes mais probabilidades de querer trabalhar na organização por mais um ano, de acordo com a O.C. Tanner. Empresas que não oferecem qualquer tipo de desenvolvimento de habilidades veem suas chances de construir uma cultura organizacional próspera caírem 76%.
- Cultura organizacional e propósito: As novas gerações que entram no mercado de trabalho buscam mais do que um salário competitivo; elas querem trabalhar para empresas que compartilham de seus valores e que têm um propósito claro. Organizações que se comprometem com questões sociais e ambientais, e que demonstram isso através de ações concretas, serão as mais atraentes. A cultura organizacional precisará refletir esse compromisso, com líderes que sejam autênticos e transparentes em suas ações.
- Equidade e Inclusão como diferencial: A equidade e a inclusão deixarão de ser apenas práticas recomendadas e se tornarão fatores determinantes para o sucesso de uma estratégia de employer branding. As empresas precisarão criar ambientes onde todos os colaboradores, independentemente de sua origem, gênero ou orientação, se sintam valorizados e tenham oportunidades reais de crescimento.
- Feedback contínuo e transparente: No futuro, o feedback contínuo e transparente será uma prática padrão nas organizações. Empresas que implementarem sistemas de feedback eficazes, em que os colaboradores possam expressar suas preocupações e ideias de forma aberta e sem medo de retaliação, estarão mais bem posicionadas para reter seus talentos. A comunicação será bidirecional e frequente, garantindo que os funcionários se sintam ouvidos e valorizados.
Dessa maneira, a disputa por talentos no mercado de trabalho altamente competitivo da atualidade demanda políticas corporativas que pensem o engajamento de profissionais a médio e longo prazos, fazendo desse princípio ampliado de employer branding um norteador de toda a cultura organizacional.