Pesquisas de mercado encomendadas por plataformas de recrutamento e seleção e consultorias de hunting trazem dados opostos e podem gerar confusão na cabeça de executivos que estão em transição de carreira
As pesquisas sobre mercado de trabalho são boas fontes para quem está em busca de emprego, especialmente executivos que podem utilizá-las como referência de como está a oferta de vagas em sua área de atuação.
Entretanto, quando empresas especializadas apresentam dados muito díspares, essas informações podem causar confusão na cabeça de quem está em busca de emprego.
A plataforma de vagas Infojobs divulgou um estudo com exclusividade para o jornal Valor Econômico informando que o número de contratações de executivos caiu 19% no primeiro semestre de 2024, com base nas vagas publicadas no site.
O headhunter Marcelo Arone, sócio na Optme RH, baseado nos dados da pesquisa do Infojobs, afirma que a situação econômica foi o estopim para essa redução na oferta. “O que começou com uma perspectiva favorável em janeiro, em boa parte, não se concretizou. O atraso no corte de juros, a preocupação com o cenário fiscal do País, a eterna influência política na economia puxaram o freio de mão, e isso significa que as empresas estão contratando menos, mas também que estão investindo mais em contratações que realmente valham a pena”, avalia.
Para Arone, apesar do ano morno, há luz no fim do túnel. “Quem está empregado e quer dar um gás na carreira para, de repente, conseguir uma promoção, e precisa urgentemente investir em soft skills. Treine suas habilidades pessoais e comportamentais para ser um agente de transformação e cuide da saúde mental para trazer leveza e impactar seus times, esse perfil “coringa” é sempre bem aceito pelos pares e buscado pelos gestores”, lembra o headhunter.
Ele ainda ressalta que “pesquisas divergentes costumam confundir, obviamente, mas precisamos olhar para o mercado que estamos abordando. Perfis mais generalistas de liderança, talvez em níveis mais iniciantes, que buscam vagas mais abrangentes, talvez tenham mais dificuldade. Mas o ponto é que nesse nível de posição, (Diretor/C-Level etc.) eles já estão num momento de carreira que escolhem onde querem trabalhar. Dificilmente existe “crise” para essa turma. Esse perfil de executivo vai se moldando, se melhorando, aperfeiçoando atuação e currículo e, geralmente, sabe o que quer. Para esses, as pesquisas até podem dar um norte, mas não definem seu perfil de contratação”.
Por outro lado, segundo um levantamento feito pela EXEC, empresa especializada na seleção e desenvolvimento de altos executivos e conselheiros, setores que detêm uma participação importante no PIB do País, como indústria e serviços, registraram um crescimento expressivo — 50% e 45%, respectivamente — no índice de admissão de novos executivos para cargos C-Level e diretoria na comparação anual. No entanto, mercados como varejo, logística e agronegócio ficaram estáveis com uma leve tendência de desaceleração.
Segundo Alexandre Zuvela, sócio da EXEC, o levantamento traz boas notícias, pois aponta que as empresas estão voltando a contratar líderes após um ambiente turbulento com a troca de governo do ano passado. “Os setores de indústria e serviços viveram um ano difícil em 2023, contabilizando um crescimento tímido, resultante de fatores como a incerteza no rumo da economia, taxa de juros do País ainda em patamares elevados, o que encarece os custos de produção e operação, alta inadimplência e endividamento das famílias, entre outros fatores. No entanto, em 2024, parece que esse reflexo se tornou um pouco mais brando, com uma perspectiva mais animadora para o futuro, o que tem incentivado as indústrias de vários segmentos a contratarem novos executivos”, avalia.
Zuvela aponta que o levantamento da EXEC não tem o objetivo de comparar-se diretamente com estudos mais amplos, justamente porque a atuação da consultoria é mais segmentada. “Nossa amostra é consideravelmente menor e os números refletem o mercado de contratações de executivos de alto escalão, que, no cenário de contratações desse tipo de executivo realizados pela EXEC, está aquecido”, esclarece.