Pesquisa indica a necessidade de acompanhamento profissional especializado e abertura de espaços para vulnerabilidade, práticas incentivadas e oferecidas pela aceleradora Darwin Startups
No senso comum, entendemos que lidar com empresas é lidar com números e resultados. Mas há certo tempo, especialistas têm nos apontado um ator importante dentro de todo esse processo, que parece óbvio mas costuma ser esquecido: as pessoas. Estar à frente de um negócio requer muito mais do que se calcula, custando a saúde mental e, por consequência, interferindo no resultado do negócio a longo prazo.
É o que indica a pesquisa realizada pelo Startup Snapshot, onde 72% dos fundadores participantes relataram que iniciar o próprio negócio teve um impacto negativo na saúde mental, porém, menos de 20% falam abertamente sobre estresse ou ansiedade. Com o intuito de modificar esse cenário, a Darwin Startups implementou desde a primeira turma de seu programa de aceleração o acompanhamento psicológico com profissionais especializados, atualmente o programa está em sua 14 ᵃ edição.
Quando relacionados a startups que estão em fase de grande desenvolvimento, como os processos de aceleração, os números são ainda piores: 23% procuram ajuda psicológica especializada e apenas 10% se sentem confortáveis em falar sobre vulnerabilidades com seus potenciais investidores, por temer uma declinação da proposta.
Leandro Aragon, especialista de Pessoas da Darwin, explica sobre a importância de ter esses acompanhamentos pela visão de quem está inserido nesse contexto corporativo. “Temos mais de 250 pessoas atendidas, ao redor de todo o país, muito por conta da busca de criar esses espaços de vulnerabilidade, propondo um local de confidencialidade e sem julgamentos. É preciso essa relação de confiança para que eu consiga, junto a esses fundadores, trabalhar com os cenários e ferramentas que cada um apresenta e auxiliá-los ao longo de toda a jornada na busca de mais resultados individuais, coletivos e organizacionais,“ complementa.
Parte do trabalho dos psicólogos que compõem o time Darwin é entender o perfil de cada fundador, como lidam com mudanças, conflitos, o que os move, quais bloqueios eles identificam, qual o nível de esgotamento mental e outros fatores que ajudam o profissional a conduzir as sessões e entregar um acompanhamento que faça sentido para aquele fundador. Momentos de dissolução societária ou de parcerias, por exemplo, são situações em que ter o apoio especializado para lidar da melhor forma faz a diferença. “Durante a nossa jornada com a Darwin, precisei passar por um processo de dissolução societária e se não tivesse o apoio da Darwin com o psicólogo que conhecia o perfil dos três envolvidos, provavelmente teríamos um imbróglio e a situação teria sido muito mais desgastante profissional e mentalmente”, comenta Luiz Penha, fundador da NextCode e participante da quinta turma do programa de aceleração da Darwin.
Liana Chiaradia, especialista em saúde mental e fundadora da Guia da Alma, plataforma de terapias complementares como benefício corporativo, aponta que o estímulo à saúde mental nas empresas começa pelo exemplo. “Falar de saúde mental ainda é tabu para muitas pessoas e isso se reflete no ambiente de trabalho. Quando o CEO quebra essas barreiras por meio de ações, é capaz de transformar a cultura organizacional e influenciar a equipe para um melhor equilíbrio da vida pessoal e profissional”, destaca.
Impacto nos negócios
Ao optar por uma abordagem humanizada, do início até o processo de desaceleração, e o incentivo à práticas de descompressão, a tendência é impactar positivamente a saúde das pessoas e dos negócios a longo prazo. “Várias pesquisas mostram que quando uma pessoa faz uma pausa, ela recarrega as energias. Ter um hobby melhora o humor, a satisfação, e gera boas ideias. Além do impacto na saúde, os momentos de descompressão fazem com que a volta ao trabalho seja leve, com mais foco, inteligência emocional, melhor comunicação e resiliência para lidar com desafios”, complementa Liana.
Um dos apontamentos da pesquisa realizada pelo Startup Snapshot é que o retorno de capital é favorecido em processos mentalmente saudáveis. O estudo indica que negócios liderados por pessoas com transtornos relacionados à mente – como depressão, bipolaridade, casos graves de ansiedade entre outros que tendem a surgir em cenários de estresse e esgotamento mental — enfrentam dificuldades de evolução e consequentemente, de retorno financeiro.
A pesquisa realizada pelo Startup Snapshot, plataforma para compartilhamento de dados relacionados a startups fundada em Tel Aviv (Israel), está em sua sétima edição. O último estudo, realizado neste ano, teve 404 fundadores de startups respondentes, estando a maioria localizados em Israel e América do Norte (81%), tendo entre 35 e 54 anos (65%).