Se o projeto-piloto for bem-sucedido, é possível que mais empresas brasileiras adotem esse modelo nos próximos anos, transformando a maneira como encaramos o trabalho e a vida
Um novo modelo de jornada laboral está ganhando destaque no Brasil. A semana de 4 dias de trabalho visa reduzir a jornada de trabalho semanal de 40 para 32 horas, mantendo o salário integral dos colaboradores. O projeto-piloto envolve a participação de 20 empresas de diferentes setores, incluindo tecnologia, serviços e varejo, localizadas em diversas regiões do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre e terá a divulgação oficial de seus resultados entre março e abril.
Simone Cyrineu, CEO da empresa Thanks for Sharing, que faz parte do projeto oficial, participou de evento exclusivo da Futuro labs onde compartilhou como tem sido essa experiência. “O preparo para chegar neste modelo exige disciplina, foco e muita produtividade. Nós decidimos trabalhar com todos remotamente em agendas bem-organizados, sabendo onde começa o seu trabalho e termina o do outro. A semana de quatro dias exige muito mais organização e planejamento, é preciso repensar o como você trabalha, as ferramentas que você utiliza e um autoconhecimento da sua atividade e do seu jeito de trabalhar. Além de exigir da gestão, você precisa de retornos dentro do timing para a eficiência ocorrer “, conta a executiva que participa do projeto oficial.
Fernanda Mourão, especialista em modelos de trabalho e CEO da Futuro Labs enfatiza que a transição para a semana de 4 dias é um processo que exige adaptação e uma construção contínua. “Exige ainda mais confiança entre empregado e empregador, dando a seus colaboradores espaço e liberdade para atuar e a cultura organizacional faz toda a diferença quando se está trabalhando num modelo remoto em uma semana mais curta. É preciso preparar as pessoas com ferramentas e treinamento para entender essa dinâmica”, explica a empresária.
Um estudo realizado pela consultoria americana PwC mostrou que as empresas que adotaram a semana de 4 dias fora do Brasil registraram uma redução de 12% no absenteísmo. Além disso, outra pesquisa realizada pela Universidade de Bath, no Reino Unido, mostrou que a semana de 4 dias pode reduzir em até 30% os conflitos no trabalho.
Os resultados do projeto-piloto ainda serão analisados, mas os primeiros indicadores apontam para uma série de benefícios, incluindo um aumento da produtividade, uma redução do estresse e uma melhora na qualidade de vida dos colaboradores. “A preparação dos colaboradores e da organização para atuar neste modelo é muito trabalhosa, porém ganha-se muito na execução das atividades. É preciso fazer uma pausa estratégica para definir e organizar fluxos internos e com clientes, esse é um momento importante que vai moldar a cultura e fazê-la ficar. Além de elevar os níveis de satisfação dos colaboradores com a empresa, é preciso ter claro definições de comunicação, canais de contato e urgência da mensagem”, contou Simone.
Para as empresas, essa jornada pode levar a um aumento da produtividade, uma redução do absenteísmo e uma melhora no clima organizacional. Já para os colaboradores, a semana de 4 dias pode resultar em uma melhora na qualidade de vida, uma redução do estresse e mais tempo para lazer e atividades pessoais. “A era pós pandêmica nos trouxe visões de que é possível atuar de forma remota, processual e organizada. É uma mudança no paradigma de como se trabalha, repensando o que faz sentido dentro da sua rotina, do seu negócio e no modo como você entrega para seus clientes”.