*Mateus Oliveira
O tema é para reflexão.
Recursos Humanos é uma área muito sensível a modismos. Vira e mexe surge uma novidade e isto se alastra como fogo em palha seca. Nos últimos 20 anos tivemos vários modismos, o atual é o coach. Tudo é coach de uns tempos para cá. Superou até o Competências do início do século.
Mas, eu gostaria de falar um outro modismo. Não tão recente assim, mas que continua em plena atividade e viés de alta, como diriam os “especialistas” da bolsa de valores. Eu quero falar sobre o cargo de Especialista. Já repararam o que tem de especialista nas empresas e nas vagas divulgadas?
Por vezes a função nem é de Especialista, mas é preciso diferenciar a remuneração e aí surge a figura do Especialista. Muitas vezes a atividade ou grau de responsabilidade continuam exatamente os mesmos. Em outras ocasiões, o colaborador tem um cargo de comando, mas não tem subordinado e para acertar a situação, vira Especialista, sem necessariamente o ser.
Em tese o Especialista deveria ser o ponto focal, o colaborador referência no processo de trabalho, na função em questão. O ponto mais alto da carreira técnica. O profissional, de fato, diferenciado. Todavia, na prática, não é bem assim que a coisa funciona.
Muitas empresas alegam que tem carreira Y (seria outro modismo?), já que possuem o Especialista num patamar salarial superior ao do Analista Sr, mas na verdade o que possuem é mais um nível hierárquico entre o Sr e o 1º. Nível de gestão (Coordenador, Supervisor ou Gerente dependendo da estrutura da empresa) uma vez, que para ser considerado carreira Y, teoricamente, deveriam conceder a este profissional a mesma faixa salarial e os mesmos benefícios concedidos ao nível de gestão. Como isto não ocorre, o que temos é um desvirtuamento da posição / cargo. O que deveria ser aplicado é a titulação do Analista Master (Ms), nestes casos. Seria mais correto e adequado. Faz muito mais sentido.
Outro ponto que depõe contra esta “inflação” de Especialistas é a remuneração.
Temos visto, por ocasiões das pesquisas que realizamos para nossos clientes, que a remuneração praticada equivalente à de analistas. Conteúdo descritivo, idem. Isto sem falar nos níveis de senioridade (Especialista Jr, Pl, Sr) sem ser carreira Y, de fato.
Como Especialista, exige-se um perfil profissional diferenciado. No entanto, a remuneração, em muitos dos casos não justifica.
Outro ponto é a área de atuação. Existe Especialista em tudo o que é área (e sabemos que isto não funciona deste jeito). Nem todas as áreas comportam, conceitualmente, um Especialista (voltamos a questão da carreira Y, não são todas as áreas que comportam carreira Y). Dizer que tem carreira Y para justificar uma remuneração diferenciada é balela.
Muitos entendem um profissional de atuação generalista como sendo a de um Especialista pelo simples fato dele “navegar” pelos vários processos da área de atuação. Só que isto não faz dele um Especialista.
Estão banalizando o Especialista. Virou algo parecido com o Coach, no sentido de tudo ser Coach, de existir Coach de tudo. Com todo o respeito que os Coachees merecem.
É um caso para se pensar muito seriamente quando do desenvolvimento de uma estrutura de cargos.
Perfil de um Especialista (em nossa particular visão)
Possui domínio da matéria. Alto grau de especialização e visão sistêmica.
Formulador de estratégias e novos conceitos ligados a matéria.
Possui total conhecimento do segmento de atuação e do negócio da empresa e do cliente.
Capaz de ler e interpretar cenários e necessidades do cliente e propor o alinhamento entre estratégias e negócios.
Gere projetos e negócios dependendo de sua área de atuação.
Geralmente atua sozinho na execução da matéria, buscando o aperfeiçoamento de normas, rotinas, procedimentos e aplicabilidades junto ao processo em que atua ou interage, bem como na invenção, adaptação ou expansão do negócio.
Primeiro nível da Carreira Y, vertente Técnica, quando a empresa possui carreira Y de fato.
Dissemina o conhecimento junto a equipe de trabalho ou junto ao cliente final. Não gere pessoas, exceto em condições de liderança pontual em projetos específicos.
Executa atividades específicas que exigem profundo conhecimento do processo onde atua
Apesar de ter autonomia suas decisões são endossadas por um superior
Será que o que você trata como Especialista, não seria um Analista Master?
*Mateus Oliveira é sócio-diretor da RHPLUS Cia da Remuneração.