A Norma Regulamentadora começa com caráter educativo e abre oportunidade para empresas entenderem riscos psicossociais
A atualização da Norma Regulamentadora Nº 1 (NR-1), que define diretrizes para a saúde no ambiente de trabalho e passará a tratar a saúde mental com a mesma relevância de outros riscos ocupacionais, entrou em vigor ontem (26), mas inicialmente em caráter orientativo, com foco em fiscalizar para educar. A mudança, confirmada pelo Governo Federal, determina que empresas passem a incluir, na gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), a avaliação de riscos psicossociais — como estresse, assédio e sobrecarga. Sendo assim, nesse primeiro ano não haverá autuação, e nenhuma empresa que descumprir as regras previstas poderá ser multada até maio de 2026.
Segundo Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental corporativos, essa é uma oportunidade para as organizações entendam o que significa risco psicossocial, escolham metodologias sérias e validadas para fazer o mapeamento, identifiquem os perigos com precisão, integrem esse diagnóstico aos sistemas de gestão de saúde e segurança e estruturem um plano de ação que vá além da conformidade: que previna, proteja e promova. “A redação da norma foi revisada para deixar claro que é obrigatório olhar para o risco psicossocial — e, mesmo assim, muita gente ainda ignora. As empresas continuam não olhando porque ainda não está explícito o suficiente. Com esse adiamento em caráter obrigatório, o medo é que deixem para depois e mais pessoas adoeçam. Entendo o lado positivo de dar mais tempo para que as organizações se preparem, aprendam e se estruturem. A Vittude tem uma metodologia desde 2020 para medir esses perigos, antes mesmo da norma. Nosso foco nunca foi apenas atender à lei, mas sim ajudar as empresas a fazer gestão estratégica de saúde mental no ambiente corporativo. Porque, no fim, um colaborador saudável é mais produtivo. Mas ainda são poucos os que realmente entenderam isso”, destaca a executiva.
De acordo com dados do INSS, o número de trabalhadores afastados por ansiedade e episódios depressivos cresceu 67% em 2024 em relação a 2023, totalizando 472,3 mil brasileiros. Com a nova redação da NR-1, a saúde mental passará a ser tratada com a mesma importância dos demais riscos ocupacionais, e os fatores psicossociais devem ser oficialmente incluídos no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), tornando obrigatória sua identificação e gestão.
A partir de agora, a Portaria MTE n° 1.419/2024 já obriga que esses riscos façam parte do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). Ou seja, além dos físicos, químicos e ergonômicos, também entram na análise questões como assédio, sobrecarga de trabalho, falta de apoio organizacional e outros fatores que impactam diretamente a saúde mental. Para acompanhar a implementação da norma, uma Comissão Nacional Tripartite Temática acompanhará a implementação das novas diretrizes, e um manual técnico detalhado será lançado para orientar empregadores e trabalhadores. “Precisamos deixar um recado claro para as empresas: usem esse período a favor de vocês, para começar a cuidar das pessoas. O mapeamento de risco psicossocial, por exemplo, leva pelo menos três meses. Quem ia começar agora, de fato, teria dificuldades se a norma entrasse em vigor com autuação esse ano. Mas o verdadeiro ganho está em compreender que uma organização com colaboradores saudáveis entrega mais resultados, e isso vai muito além do cumprimento legal. A NR-1 carrega uma lógica de prevenção e promoção — e isso é uma fortaleza. Se faço gestão, evito a remediação. E, na saúde, a prevenção é infinitamente mais barata do que a intervenção. O objetivo é eliminar os riscos antes que eles adoeçam alguém”, comenta Tatiana.
A importância da saúde mental e qualidade de vida nas organizações
Incentivar uma rotina mais saudável, com boa alimentação, prática de atividades físicas e a realização de exames periódicos é um papel social e, também, organizacional. As empresas podem desenvolver programas de cuidados para prevenção de problemas de saúde e estimular a qualidade de vida.
Organizações que investem em iniciativas para a melhoria do bem-estar dos funcionários geram menos afastamentos, retém talentos e atraem colaboradores, especialmente quando falamos de novas gerações chegando ao mercado de trabalho, que não querem somente ganho financeiro ou chegar a altos postos, mas, optam por empresas e funções no qual podem ter uma relação saudável entre a vida profissional e pessoal. “Promover saúde e bem-estar no ambiente corporativo vai além de ações pontuais, trata-se de uma estratégia com impacto direto na produtividade, na motivação e na retenção de talentos. Além disso, faz com que os colaboradores se sintam mais dispostos fisicamente e emocionalmente para produzir e promover um ambiente de trabalho positivo”, afirma Josiane Serrano, gerente do Atendimento Corporativo do Senac São Paulo, que indica cinco iniciativas para quem deseja desenvolver e implementar um ambiente de trabalho saudável.
- Conheça o público interno: Realize pesquisas e ouça os colaboradores para entender as necessidades e expectativas em relação a possíveis ações e programas nesse aspecto.
- Ofereça variedade: Disponibilize uma gama diversificada de opções e incentivos para a melhora a qualidade de vida como, por exemplo, as corridas coletivas ou programas contínuos que possam ser estendidos aos familiares e a comunidade.
- Comunique claramente: Invista em palestras, encontros sobre alimentação e hábitos saudáveis. Além disso, explique detalhadamente as opções de benefícios disponíveis e como os colaboradores podem utilizá-las. A transparência é fundamental.
- Monitore resultados: Acompanhe regularmente os resultados da implementação das ações, avaliando o impacto no engajamento, na melhora do ambiente interno, na melhora da positividade e os impactos das ações também nas equipes, na produtividade e nos afastamentos
- Programas de cuidados com a saúde mental: desenvolva ações que priorizem o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho e levem em conta ações que possam também mitigar problemas de saúde mental.
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