Lideranças de RH de importantes empresas do setor varejista falaram sobre as oportunidades para inovar na gestão de talentos, riscos e desafios para alinhar as estratégias de Recursos Humanos
O segundo painel de debates, com o tema “As principais oportunidades, riscos e desafios que os Líderes de RH enfrentam no setor de Varejo”, contou com a participação de Gustavo Fermino, diretor de Recursos Humanos na Syngenta; Rafael Leite, líder de RH para o Varejo na Natura; e Fabiola Ancioto, diretora de RH e ESG na Carl Zeiss Vision Brasil, como mediadora. Durante o debate, os especialistas discutiram as nuances do setor de Varejo, destacando as oportunidades para inovar na gestão de talentos, os riscos associados à rápida transformação digital e os desafios de alinhar as estratégias de Recursos Humanos às demandas dinâmicas do mercado varejista.
Rafael Leite, diretor de RH para o Varejo na Natura, iniciou sua fala destacando o orgulho da empresa em comemorar 55 anos em 2024. Com uma força de trabalho composta por 14 mil funcionários e uma rede de 3 milhões de consultoras no Brasil, além de 5 milhões na América Latina, a Natura se consolidou como uma marca icônica, operando não apenas com as conhecidas Natura e Avon, mas também com outros serviços como a Bluma, um aplicativo de bem-estar, e a fintech Emana Pay, voltada para as consultoras.
A Natura atua predominantemente em três canais: vendas por relações, vendas on-line e varejo. As vendas por relações, popularmente conhecidas como vendas diretas, representam ainda 75-80% do faturamento da empresa. O varejo, por sua vez, é composto por 126 lojas próprias, principalmente em grandes shoppings, além de mais de 900 lojas franqueadas, todas dirigidas por antigas consultoras da Natura. Rafael destacou que todas as franqueadas atuais foram consultoras da marca, reforçando a relação profunda e histórica com a empresa.
Ao falar sobre os desafios futuros, Rafael destacou três focos principais: multicanalidade, experiência do cliente e regeneração. Ele explicou que a Natura está lidando com um convívio de gerações, no qual o consumidor mais jovem prefere comprar on-line, mas também valoriza a experiência física da loja. “Harmonizar esses canais é um grande desafio para os próximos anos”, pontuou Rafael.
A experiência do consumidor é outro ponto crucial. Nas lojas físicas da Natura, os clientes valorizam o design e a arquitetura, bem como a relação com as consultoras, que oferecem conselhos personalizados sobre os produtos. Esse contato pessoal é fundamental para a experiência do cliente nas lojas físicas, contrastando com as vendas diretas, em que o preço é um fator mais valorizado.
Por fim, Rafael destacou o conceito de regeneração como um desafio abrangente para toda a empresa. A Natura, pioneira em práticas de ESG, está agora liderando um movimento de regeneração que visa não apenas equilibrar, mas aumentar seu impacto positivo. Rafael explicou que esse conceito de regeneração se aplica a todas as áreas da empresa, inclusive ao RH, cujo objetivo é que cada colaborador saia melhor do que chegou, refletindo um compromisso contínuo com a melhoria e o desenvolvimento sustentável.
Gustavo Fermino, diretor de RH na Syngenta, destacou que, apesar de ser uma companhia suíça/chinesa e líder global de insumos e serviços do agronegócio, a maior operação global da empresa acontece no Brasil, dada a importância do agronegócio no País.
Com mais de 20 anos de atuação no Brasil, a Syngenta possui diversas divisões de negócio, sendo a maior delas a de proteção de cultivos e defensivos agrícolas. Recentemente, a empresa lançou a Synap (Syngenta Agriculture Platform), uma plataforma de serviços e varejo que começou com um piloto no sul do Brasil e rapidamente se expandiu para 95 lojas e mais de 1200 colaboradores, mesmo em meio à pandemia.
Fermino ressaltou as semelhanças dos desafios enfrentados pela Syngenta com aqueles da Natura, como mencionado por Rafael Leite. O agronegócio no Brasil tem um forte componente relacional, especialmente no interior do País, onde relações pessoais são fundamentais. A Syngenta optou por adquirir empresas familiares com forte relação com os clientes, o que enriqueceu a operação. A jornada de crescimento rápido, passando de duas lojas piloto para 95, exigiu adaptações rápidas e fusões e aquisições bem-sucedidas.
Sobre o desenvolvimento de liderança, Fermino explicou que, com o rápido crescimento, a Syngenta precisou colocar profissionais ainda em formação em posições de liderança, valorizando potencial e vontade acima da experiência. Ele enfatizou a importância de investir em capacitação e programas de treinamento on the job para formar líderes eficazes. Além disso, Fermino desafiou sua equipe a tratar os líderes como adultos, dividindo responsabilidades e evitando a infantilização. “Esse enfoque, embora tenha surpreendido alguns, trouxe bons resultados e continua sendo um aprendizado constante para a empresa”, comemora.
Fabiola Ancioto, diretora de RH e ESG na Carl Zeiss Vision Brasil, perguntou sobre quais estratégias de desenvolvimento de lideranças têm sido mais eficazes considerando a transformação no varejo. Ela indagou como esses processos de desenvolvimento são implementados, se são realizados presencialmente ou em um formato híbrido, e quais estratégias específicas são envolvidas no processo de desenvolvimento de lideranças.
Rafael Leite explicou que a Natura desenvolveu um ecossistema de aprendizagem baseado no conceito de regeneração. Este sistema é dinâmico e efetivo, permitindo que o aprendizado ocorra em qualquer interação, seja por meio de redes, conexões externas ou aprendizado mútuo. O ecossistema inclui programas on the job, mentorias, aceleração de grupos minoritários e aprendizado relacional, com o objetivo de ensinar e aprender tanto dentro quanto fora da Natura. Em 2024, a empresa aprimorou este sistema e pretende intensificá-lo em 2025.
Além do ecossistema de aprendizagem, Rafael destacou a importância de desenvolver o crescimento pessoal dos colaboradores, incentivando-os a buscar conhecimento de forma proativa. Ele mencionou a filosofia TBC (tirar a bunda da cadeira), quando os indivíduos são encorajados a se desenvolver pessoalmente, não apenas profissionalmente. “A aposta da Natura é criar uma cultura de aprendizado contínuo e colaborativo, responsabilizando cada indivíduo por seu próprio desenvolvimento”, ressaltou.
Gustavo Fermino compartilhou as estratégias adotadas pela Syngenta para fortalecer as habilidades de liderança de um público jovem, com 80% dos líderes assumindo sua primeira posição de liderança. A empresa decidiu investir internamente, capacitando o time de RH para conduzir o desenvolvimento de lideranças sem depender de parceiros externos. Após uma imersão de dois dias na formação de facilitadores, o time de RH desenvolveu e validou o conteúdo junto ao time executivo, implementando as sessões de treinamento presencialmente em diversas regiões do Brasil, de julho a dezembro.
Fermino destacou os resultados positivos obtidos com essa abordagem. Os business partners de RH conduziram rodas de conversa, mediando discussões entre líderes regionais que compartilharam experiências, erros e acertos. “Esse formato reforçou o senso de comunidade entre os líderes, que passaram a se apoiar mutuamente e a entender que enfrentam desafios semelhantes. A iniciativa também legitimou o papel do RH local e mostrou-se mais econômica e eficaz do que contratar grandes consultorias, consolidando a aposta da Syngenta no desenvolvimento interno de suas lideranças”, relatou.
A cobertura do Fórum Nacional de Líderes de RH contou com o patrocínio:
Conteúdo complementar:
Fórum Nacional de Líderes de RH discute desafios para os profissionais da área
Setor de serviços enfrenta o desafio da alta rotatividade de trabalhadores
Executivos de RH do setor produtivo discutem desafios da área na indústria 4.0