66,3% dos profissionais brasileiros de TI relataram estresse no trabalho

O setor de Tecnologia da Informação (TI), considerado um dos mais importantes do mercado, atualmente vem enfrentando problemas de retenção. Além disso, possui o maior déficit de talentos no mundo. O nível de estresse desses colaboradores tem disparado, levando a sérios impactos de saúde mental, devido à crescente demanda por profissionais especializados e à pressão por resultados mais rápidos. Casos de esgotamento mental e afastamento entre especialistas em TI são decorrentes da alta tensão, dos ataques cibernéticos constantes, da falta de reconhecimento e da evolução tecnológica, cuja atualização é célere. O levantamento da ManageEngine mostra que 66,3% dos profissionais brasileiros de TI relataram um aumento significativo de estresse nos últimos anos, superando a média global de 63,8%. Este é o maior índice registrado na América Latina.

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou oficialmente a Síndrome de Burnout como uma doença ocupacional. Dados mostram que 32% dos brasileiros sofrem com essa condição, reforçando a necessidade urgente das empresas olharem com mais atenção para tal problema, que afeta a vida de seus funcionários. É necessário ajudar no incentivo de práticas que amenizem essa pressão.

Roberta Venanzi, coordenadora de RH da keeggo, consultoria de tecnologia especializada em impulsionar a transformação digital de negócios por meio de soluções personalizadas em: Engenharia de Qualidade, Cibersegurança e Privacidade, Cloud & DevOps, Ciência de Dados, Inteligência Artificial e Desenvolvimento de Produtos, ressalta que as empresas que investem na saúde mental de seus colaboradores oferecem mais apoio e evitam que situações de esgotamento aconteçam, ou que sejam ao menos reduzidas. “Acho importante promovermos ações voltadas para o bem-estar, como terapia online, ginástica laboral, suporte emocional, acompanhamento para futuros pais e mães, além de programas de saúde preventiva. Um ambiente de trabalho saudável é fundamental para manter a saúde mental de nossos colaboradores”.

Investir na segurança psíquica não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas uma estratégia vital para a retenção de talentos, aumento da produtividade e redução de afastamentos. Em um mercado tão competitivo quanto o de TI, empresas que cuidam de seus colaboradores estarão mais preparadas para enfrentar os desafios e garantir o crescimento sustentável. Apenas um bom salário para estes profissionais não é o suficiente para retê-los, é primordial que a empresa elabore projetos que incluam qualidade de vida, plano de carreira, recursos tecnológicos e clima organizacional. “Priorizar um ambiente saudável e o bem-estar dos colaboradores é, sem dúvidas, a chave do sucesso. As empresas precisam adotar uma abordagem mais humana e ressignificar a relação com o trabalho, propondo novos caminhos para a produtividade e inovação sem sacrificar a saúde mental de seus talentos”, enfatiza Roberta, que reforça a importância de o colaborador se priorizar fora do ambiente de trabalho, cuidando da sua saúde. “Fazer atividades físicas, meditação, ter uma alimentação saudável, fazer as devidas pausas programadas durante o trabalho, respeitar a carga horária e definir limites entre vida pessoal e profissional são o combo de equilíbrio perfeito para que o profissional consiga manter a saúde mental em dia”, conclui.

O RH deve auxiliar e construir um “diagnóstico” sobre o que pode estar estressando os times de TI, o que é possível a partir de pesquisas com os próprios colaboradores ou por meio de monitoramento do bem-estar da equipe. Mesmo com culturas organizacionais ativas, o profissional permanece horas em frente às telas. Também é uma opção criar mecanismos para que líderes e liderados relatem, continuamente, níveis de frustração, atritos e ineficiência de processos para identificar estressores e desenvolver recursos para neutralizá-los.

É dever das empresas, contando com a abordagem humana do RH, ressignificar a relação com o trabalho e propor novos caminhos para a produtividade, a inovação e a geração de valor, sem colocar em risco a saúde mental desses talentos.

Como a saúde mental e a gestão de projetos são essenciais para inovar e atrair novos talentos

Dificuldade em lidar com a rotina e falta de energia, sentimentos de incapacidade, preocupação e ansiedade excessivas, tristeza e distúrbios do sono, são sinais que podem indicar que a saúde mental está em risco. Diversas pessoas ao nosso redor estão passando por essas situações ou já superaram esses desafios no passado; Flávio Cavalcante, voluntário do PMI e gerente de projetos, se considera alguém que adquiriu ótimas ferramentas para equilibrar trabalho e saúde mental. No entanto, ele já passou por “ansiedade, frustração e desânimo” no passado. Em um ponto de sua jornada, ele não tinha certeza sobre seu caminho profissional e, por um longo tempo, rapidamente perdeu o interesse em oportunidades profissionais e nas empresas em que trabalhava. Isso o levou a ficar ansioso e a ser duramente criticado por seus pares.

E assim como aconteceu com Flávio, milhares de pessoas também lutam entre as demandas do trabalho e tentam manter a saúde mental intacta. De fato, segundo o Ministério da Previdência Social, em 2023, a depressão e a ansiedade resultaram em 149,3 mil afastamentos por incapacidade temporária no Brasil. Os transtornos de saúde mental são responsáveis por 38% de todos os afastamentos concedidos pelo INSS, com um aumento de 30% nas faltas entre 2020 e 2022, (Panorama da Saúde Mental nas Organizações Brasileiras – 2023).

Estudos mostram que locais de trabalho que priorizam o bem-estar mental resultam em equipes mais engajadas e produtivas. No entanto, dados da Fundação Getúlio Vargas (2022) indicam que 63% dos profissionais com transtornos mentais não receberam apoio de seus líderes, enquanto 48% sentiram que as empresas demonstraram pouca preocupação com o bem-estar de seus funcionários.

Com o aumento dos casos de depressão, ansiedade e burnout, em março deste ano, uma lei sancionada pelo Governo criou uma certificação para empresas que promovem a saúde mental de seus funcionários. “Na minha busca por propósito, comecei a aprender mais sobre gerenciamento de projetos e dei uma guinada na minha vida”, diz Flávio Cavalcante, que, além de servir a comunidade de gerenciamento de projetos do PMI como voluntário, hoje é professor, autor e entusiasta de negócios.

Para a líder de Comunidade de PMI Latam, Carolina Latorre, criar um ambiente de segurança psicológica, programas de suporte e treinamentos de bem-estar são essenciais para que as organizações atraiam e retenham talentos e promovam um ambiente mais inovador e saudável. “A gestão de projetos envolve planejar, executar e monitorar iniciativas com objetivos específicos. Quando aplicada à saúde mental, essa abordagem pode ajudar as organizações a identificar e implementar políticas de bem-estar, estabelecer rotinas de feedback e promover uma comunicação aberta entre as equipes.”

Gestão da Saúde Mental

Hoje, Flávio Cavalcante é um gerente de projetos com grande competência. “Houve uma transformação na minha vida antes e depois de me tornar gerente de projetos. Antes, eu não tinha direção profissional e pessoal. Agora, sei exatamente para onde quero ir”, diz. Ele é voluntário no Project Management Institute (PMI) há 18 anos e ajuda pessoas a aplicar o gerenciamento de projetos em empresas e em suas próprias vidas.

A cada novo curso e certificação, Flávio aprendeu mais sobre gerenciamento de projetos, negócios e processos, suas emoções e habilidades. “Com a minha experiência, criei o Plano Estratégico Pessoal que me ensinou práticas essenciais para promover a minha saúde mental e da minha equipe. A primeira coisa importante para a saúde mental é saber o que você quer construir para sua vida. Essa é a direção”, afirma.

Ele também apresenta a teoria 98-2, que ensina a priorizar o que importa. “A vida compreende 98% das questões importantes, mas elas não são cruciais. Os 2% restantes são os momentos que importam, como saúde, família e saúde mental. Foque neles e dedique sua energia”, aconselha.

Para organizações que buscam promover melhor saúde para seus funcionários, Carolina Latorre aconselha os profissionais a “criar projetos que incentivem a prática de atividade física, cuidados com a saúde e nutrição, ter uma política de trabalho que equilibre a vida pessoal e profissional para que as pessoas possam ter momentos de descanso e lazer, e investir em um ambiente acolhedor, colaborativo e seguro. Além disso, promover e facilitar a participação em comunidades onde as pessoas sintam um senso de pertencimento — seja relacionado a interesses pessoais ou hobbies como culinária ou esportes, ou comunidades profissionais como o PMI — oferece mais do que apenas oportunidades de aprendizado. Essas comunidades permitem que os profissionais se conectem com outras pessoas e promovam interações humanas significativas, o que pode, sem dúvida, ter um impacto positivo na saúde mental dos funcionários”.

Conteúdo complementar

No Dia Mundial da Saúde Mental, pesquisas apontam para deterioração da qualidade de vida no trabalho

Bem-estar no ambiente corporativo pauta debates sobre saúde mental no trabalho

One thought on “Categorias profissionais preocupam-se com a saúde mental”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.