Neste 1º de outubro, em que é comemorado o Dia Internacional do Idoso, especialistas mostram que esse não é um conflito a ser resolvido, e sim uma oportunidade de criar um ambiente de trabalho complementar
O Dia Internacional do Idoso (01/10), celebrado para sensibilizar a sociedade sobre questões relacionadas ao envelhecimento, traz a reflexão sobre as oportunidades de trabalho para pessoas acima de 50 anos, visto que em 2040 esse público deve ocupar em torno de 56% da força de trabalho no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Apesar do número crescente, uma pesquisa realizada pelas empresas de recrutamento e inovação Robert Half e Labora mostra que o mercado de trabalho ainda está caminhando a passos lentos no que diz respeito à contratação de pessoas consideradas idosas, sendo que 70% das empresas contrataram muito pouco ou nenhum profissional com mais de 50 anos — isso representa apenas 5% das novas contratações.
Dr. Jô Furlan, médico, neurocientista e criador dos conceitos Empreendedorismo Sênior e Longevidade Produtiva, prefere não utilizar a palavra idoso para definir as pessoas mais experientes, mas a sigla VES, que significa vivido, experiente e sábio. “O termo ‘idoso’ ou ‘melhor idade’ ou ‘terceira idade’, não devem ser definidos pelo descritivo cronológico, mas pelo comportamental, ou baseado na vida. O que esperamos depois dos 50 anos é que sejamos VES, vividos, experientes e sábios. Se com mais de 50 você não atingiu esse objetivo, só lhe resta esperar a próxima encarnação, porque a pessoa deve, ao longo da vida, buscar sempre ser vivido, experiente e sábio”, conceitua.
No cenário corporativo atual, convivem quatro gerações com características e expectativas distintas: Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964), Geração X (1965 a 1980), Millennials ou Geração Y (1981 a 1996) e Geração Z (1997 a 2010). Diante dessa diversidade geracional, é comum surgir nos departamentos de Recursos Humanos (RH) a seguinte dúvida: como promover a integração entre esses diferentes perfis?
Segundo Daniel Spolaor, CEO da Universidade Corporativa Korú e especialista em RH, o primeiro passo é aceitar que as empresas são formadas por várias gerações e isso não vai mudar. “Uma parcela dos profissionais trata o tema como se fosse um ‘conflito a ser resolvido’, mas as empresas são espelhos da sociedade, o que temos que fazer é usar o melhor que cada um tem a oferecer. Diferentes gerações trazem diferentes contribuições para a empresa”, comenta.
Os traços de cada geração influenciam diretamente em sua postura no ambiente de trabalho. Os Baby Boomers, por exemplo, são considerados mais conservadores. Para eles, lealdade à empresa e comprometimento a longo prazo são valores fundamentais. Em contrapartida, as gerações mais jovens, como os Millennials e a Geração Z, tendem a priorizar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, além de buscar um propósito em suas atividades.
Essas divergências, de acordo com Spolaor, não devem ser encaradas como um obstáculo, mas como uma oportunidade para criar um ambiente de trabalho complementar. “As gerações mais experientes, Baby Boomers e Geração X, trazem uma bagagem muito valiosa de resiliência. Elas sabem navegar por períodos de crise e incerteza com uma segurança que muitas vezes falta aos mais jovens. Já as gerações mais novas, que cresceram em um mundo digital, têm uma habilidade incrível para a inovação, que também é fundamental para o sucesso das empresas no cenário atual”, explica.
Para ilustrar esse cenário, vale lembrar do filme “Um Senhor Estagiário” (2015), dirigido por Nancy Meyers, que traz um bom exemplo de como o encontro de gerações em uma empresa pode ser valioso. Na trama, Ben Whittaker (Robert De Niro), um idoso de 70 anos, torna-se estagiário de uma startup de moda. Ele rapidamente enfrenta a diferença geracional, especialmente com sua chefe, a jovem Jules Ostin (Anne Hathaway), mas aos poucos demonstra a importância de sua experiência de vida, trabalho e sabedoria para a continuidade do negócio. “É importante ter em mente que a idade não define competência ou relevância. Precisamos ser capazes de aprender com quem já viveu mais e entender que o conhecimento acumulado é uma ferramenta poderosa. Ao mesmo tempo, as gerações mais jovens também têm muito a ensinar”, analisa o CEO da Korú.
Para que a convivência entre gerações seja produtiva, Spolaor destaca a importância de criar um ambiente empresarial baseado no respeito e na empatia. “Não podemos esperar que todos pensem da mesma forma, mas precisamos garantir que haja um entendimento de que cada geração traz uma contribuição única para o time. Quando há esse respeito, os problemas diminuem e as colaborações aumentam”, diz.
Ele também lembra que embora existam tendências associadas a diferentes gerações, é um erro generalizar e presumir que todos se encaixam perfeitamente nelas. Experiências de vida, contexto social e personalidade moldam cada pessoa de forma única. “Rotular colaboradores apenas pela idade pode limitar o potencial de colaboração nas equipes”, alerta o CEO.
De invisibilizados à contratados
Uma das maiores empresas de soluções em experiência do cliente e gestão de processos de negócios terceirizados, a AeC Contact Center mapeou que 1560 dos seus colaboradores são pessoas com mais de 50 anos. “Queremos profissionais comprometidos, independentemente do gênero, raça ou idade. E os nossos colaboradores mais maduros mostram esse comprometimento no dia a dia, somado à facilidade de realizar um atendimento mais humanizado para com os clientes”, afirma Yveth Alves, gerente de Pessoas da companhia.
A AeC é uma das maiores contratantes do Nordeste e tem atuação em São Paulo, Rio de Janeiro e nas cidades mineiras de Belo Horizonte, Montes Claros e Governador Valadares. Atualmente, a empresa está com mais de 2 mil vagas abertas nas suas mais de 20 unidades no País, com oportunidade de contratação CLT, remuneração compatível com o mercado, plano de saúde e odontológico, seguro de vida, auxílio creche, possibilidade de trabalho remoto, além do horário de trabalho de 6h20 e cursos da Universidade AeC para desenvolvimento de carreiras.
O número de contratações de pessoas com 50 anos ou mais do Hospital Alemão Oswaldo Cruz teve um aumento de 46% no ano de 2023, em comparação à 2022. No primeiro semestre deste ano foram mais 19 contratações. Os colaboradores acima dos 50 anos representam atualmente 12% da força de trabalho entre os cerca de 3.500 funcionários da Instituição. Este crescimento está alinhado à agenda ESG (Environmental, Social and Governance) do Hospital, que busca promover a inclusão e a diversidade.
Segundo Silvino Teófilo, gerente de Remuneração e Administração de Pessoal do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a contratação de profissionais com mais de 50 anos pela instituição de saúde não se dá apenas por necessidade. “Essa é uma escolha consciente e estratégica, que busca criar um ambiente de trabalho diversificado, em que a troca de conhecimentos e experiências enriquece toda a equipe”, explica.
Além disso, ao promover a inclusão de profissionais veteranos, o Hospital contribui para a sociedade ao combater preconceitos e estereótipos relacionados à idade, demonstrando que a experiência é um ativo valioso.
Em 18 meses (entre janeiro de 2023 e junho de 2024) foram 86 profissionais acima dos 50 anos contratados, demonstrando a continuidade da eficácia das estratégias adotadas. A representatividade de 12% desses profissionais no quadro de colaboradores é um marco importante. Além disso, 63% dos colaboradores com 50 anos ou mais são mulheres.
De acordo com Maria Carolina Lourenço Gomes, diretora-executiva de Pessoas, Sustentabilidade e Responsabilidade Social do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, para os próximos anos, o Hospital pretende continuar ampliando a contratação de profissionais maduros, alinhando esse esforço aos compromissos estratégicos que vêm sendo desenvolvidos pela Instituição. “Dar espaço, no mercado de trabalho para o conhecimento técnico e vivência de profissionais qualificados e maduros faz parte da agenda ESG da Instituição, nossa gestão de pessoas é baseada na diversidade profissional, que inclui proporcionar a troca de experiências e a transmissão de conhecimento entre colaboradores mais experientes com aqueles mais jovens, fortalecendo valores como conhecimento e respeito”, diz.
A diretora executiva complementa que o “plano do Hospital inclui a expansão dos programas de suporte e a criação de novas iniciativas para garantir que todos os colaboradores, independentemente da idade, tenham oportunidades iguais de crescimento e desenvolvimento”.
Jornada da Diversidade, Equidade e Inclusão
Além da inclusão etária, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz vem avançando na agenda de diversidade, equidade e inclusão (DEI). Todos os planos táticos sobre o tema foram concluídos, incluindo a estruturação de um painel de indicadores que monitoram o progresso das iniciativas.
Ações afirmativas foram implementadas para aumentar também o número de pessoas com deficiência (PcD) na organização, e treinamentos sobre a jornada foram oferecidos a colaboradores diretos, profissionais do corpo clínico cadastrado ativo, alunos da Faculdade e da Escola Técnica e ao grupo de voluntários.
Em 2023, o programa de atração de PcD do Hospital contou com cinco turmas e a participação de mais de 400 pessoas nos processos seletivos, com 73% de aproveitamento ao término do ciclo.
Testemunhos e casos de sucesso
Hoje o Hospital conta com 411 colaboradores 50+, cada um com uma história inspiradora de carreira. Claudia Aparecida Fernandes, de 56 anos, é enfermeira há 28 anos. Atuando no Hospital Alemão Oswaldo Cruz desde o início do ano passado, ela destaca que “a inclusão de profissionais mais experientes não só beneficia os colaboradores, mas também melhora a qualidade do atendimento aos pacientes. A experiência e o conhecimento acumulados ao longo dos anos são insubstituíveis e têm um impacto direto nos nossos ótimos resultados.”
Marcia Cristina dos Santos, 54 anos, é orientadora de fluxo na Instituição há um ano e considera que trabalhar no Oswaldo Cruz tem sido uma experiência enriquecedora. “Sinto-me valorizada e parte de uma equipe que reconhece a importância da minha experiência.”
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz demonstra, com suas políticas e ações, que a inclusão e a valorização dos profissionais mais maduros são fundamentais para o sucesso e a sustentabilidade da organização. A experiência dos colaboradores 50+ é um ativo valioso que contribui para a inovação e a qualidade do serviço de saúde oferecido.