Pesquisa com mais de 2 mil executivos de nove países, incluindo o Brasil, revela que esses temas estão no centro de suas preocupações e desafios
A consultoria LHH realizou um estudo com 2.282 executivos C-level de organizações da Austrália, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Cingapura, Suíça, Reino Unido e EUA para entender o cenário da liderança executiva neste início de 2024. A constante e veloz transformação digital, com novas tecnologias aparecendo a todo tempo e a força disruptiva da Inteligência Artificial, que também avança a passos largos, foram apontados pelos entrevistados como os maiores desafios que não só vêm pela frente, mas que já tem sido motivo de preocupações generalizadas para as lideranças das companhias.
De acordo com Irene Azevedo, diretora geral do Centro Internacional de Opções Executivas (ICEO) da LHH na América Latina, a complexidade do ambiente corporativo dos negócios nos dias atuais está mobilizando a todos, porém os desafios relacionados à tecnologia de certa forma surpreenderam. “Há muito tempo se fala em um mercado volátil, se fala em disrupção e novas tecnologias. Mas, confesso, que nos surpreendeu o fato de os avanços tecnológicos serem apontados com os principais pontos a serem que teremos pela frente. Penso que a Inteligência artificial, talvez, esteja protagonizando tal preocupação, sobretudo por conta da velocidade como surgem novidades neste setor”, afirma.
Ela destaca que, segundo o levantamento, a “disrupção tecnológica, incluindo “IA” apareceu como o principal desafio externo, citado por 29% dos entrevistados. A “transformação digital” figurou como o maior desafio interno, sendo apontada por 26% deles. No Brasil, esses percentuais ficaram em 34%. “São os líderes afirmando que as tendências tecnológicas estão no radar, sobretudo, pelas mudanças constantes que proporcionam. Além disso, tal preocupação é muito por conta da necessidade de formar times cada vez mais preparados e com conhecimentos direcionados para essa era digital”, aponta Irene, acrescentando que, segundo a pesquisa, o “desenvolvimento de conjuntos de habilidades crucias” figurou entre os principais desafios internos enfrentados pelos executivos de RH, seguido por outras variáveis, como “promoção da diversidade, igualdade e inclusão”, diretamente ligadas a agenda ESG, tema também no radar dos líderes.
A diretora chama atenção ainda para outro dado do estudo, que é o fato de 28% dos chefes de Recursos Humanos terem colocado as “dificuldades na cadeia de suprimentos” no topo dos desafios externos enfrentados por suas equipes de liderança. E, com 24%, eles concordarem com os executivos em relação a “transformação digital”, ou seja, considerando-a o desafio interno com maior urgência e que carece de maior atenção. “Enfim, é a transformação tecnológica/digital tirando o sono dos executivos e responsáveis pelos RHs em boa parte do mundo”, sinaliza.
Segundo Irene, curiosamente, “retenção dos maiores talentos” e “encontrar talentos imprescindíveis”, tópicos que antes já foram prioritários em qualquer pesquisa, agora foi citado por 21% dos entrevistados, ou seja, abaixo da preocupação com as novas tecnologias.
Burnout
A pesquisa global revelou também uma preocupação generalizada entre os executivos seniores em relação ao burnout dentro das equipes de liderança. No estudo, 52% dos executivos ouvidos afirmaram que os líderes seniores estão sobrecarregados e esgotados. No Brasil esse índice ficou em 40%, considerado bem significativo e, novamente, motivo de acender o sinal de alerta. “Cada região tem sua peculiaridade, é claro, mas lidar com o burnout se tornou primordial para a manutenção das equipes em qualquer lugar, a começar pela liderança que precisa se manter eficaz e dentro dos parâmetros e plano estratégico da organização”, diz Irene.
A pesquisa revelou que uma das principais lacunas de habilidades e áreas de melhoria para líderes de negócios dentro de equipes de liderança seniores apontadas pelos entrevistados foi justamente o pensamento estratégico e capacidade de tomada de decisão, com 24%. Outros 23% citaram a tomada de decisão de forma ética e integridade. Conhecimento em tecnologia digital e emergente (22%), adaptabilidade e gestão de mudanças (22%) e inovação e resolução criativa de problemas (22%) completam a lista. “Essas deficiências apontadas reforçam o fato de 60% dos executivos afirmarem que gostariam de ter mais opções de suporte disponíveis. Isso significa que, diante de um cenário que exige tomada de decisões mais rápidas e em situações inéditas, os executivos tem demonstrado total preocupação e expressado o desejo de alternativas de suporte mais amplas e individualizadas”, explica.
Para Irene, executivos e líderes já entenderam o momento e que, como se diz popularmente, “a tendência é piorar”. Portanto, os executivos realmente vêm acenando para as organizações, especialmente querendo apoio focado no aprimoramento da capacidade de tomada de decisões, como mentoria e coaching entre pares. “E eles estão certo, pois são as formas de assistência mais procuradas e que podem oferecer o que eles precisam”, complementa.
Para finalizar, a diretora destaca a complexidade do mercado de trabalho atual de um modo geral, com executivos assumindo novas funções e, em muitos casos, acumulando duas ou três. Dessa forma, ela alerta que nesse cenário, o investimento estratégico de apoio a estes executivos, bem como, o planejamento de sucessão pode ser primordial para diminuir a rotatividade de executivos, proporcionando estabilidade organizacional em longo prazo. “É com esta “cesta” de medidas que será possível enfrentar os desafios tecnológicos e o combate ao burnout, promovendo o fortalecimento da capacidade de tomada de decisões e dando aos executivos seniores condições de encarar as demandas crescentes do ambiente de negócios atual”, conclui.