*Fernanda Mourão
A Geração Z, composta por indivíduos nascidos entre 1997 e 2012, representa uma parte significativa da população mundial. No Brasil, esse grupo totaliza 34 milhões de pessoas, correspondendo a 16% da população; globalmente são 2 bilhões de pessoas, o equivalente a 32% da população mundial. Esses indivíduos são nativos digitais, nasceram na era da internet, das redes sociais e do consumo digital. No entanto, ao olharmos além dos números, encontramos pessoas com aspirações profissionais e ambições de conquista, enfrentando desafios relacionados ao preconceito de etarismo, ou ainda ageísmo juvenil em pleno século XXI.
Os desafios que confrontam a Geração Z são muitos. No Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego para esse grupo é de 24,4%, mais que o dobro da média nacional (8,1%). Muitos desses jovens ainda não tiveram oportunidades para demonstrar suas habilidades no mercado de trabalho, enfrentam barreiras como a falta de experiência profissional, dificuldades na transição das habilidades digitais para habilidades práticas e expectativas salariais desconectadas da realidade.
Considerados inexperientes, esses jovens se viram diante de mudanças profundas logo no início de suas carreiras, especialmente com o advento da pandemia global, que nos forçou a adotar o trabalho remoto, uma novidade sem precedentes. Enquanto isso, as gerações mais experientes enfrentaram desafios diferentes, aprenderam a trabalhar sem a internet, utilizaram as páginas amarelas e se adaptaram gradualmente às tecnologias emergentes que simplificaram muitos processos.
Para que esses jovens possam se destacar no mundo digital, é essencial passar por um processo de integração no trabalho. Conforme estudos conduzidos pelo Dr. Gleb Tsipursky, um parceiro da Futuro Labs no Brasil, a entrada dos jovens no mercado de trabalho requer a orientação de um mentor ou patrocinador. Este indivíduo desempenhará um papel fundamental ao ajudar o jovem a compreender a organização e a forma como ela opera, orientando-o em sua trajetória profissional ensinando aquilo que não está nas páginas amarelas da atualidade, ou seja, nem no Google nem no ChatGPT.
A gestão desempenha um papel fundamental para essa nova geração. É fundamental que os líderes atuem não apenas como orientadores, mas como educadores especialmente no mundo do trabalho. Os pais também têm um papel indispensável em ajudar esses jovens nos primeiros passos rumo ao mundo do trabalho e da tecnologia. No entanto, é importante destacar que muitos pais também enfrentam dificuldades em lidar com a tecnologia e nem todos possuem habilidades avançadas em informática.
Existe uma ideia quase que consensual de que os jovens, por nascerem na era digital, têm a obrigação de dominar todos os sistemas de computadores, isso é totalmente questionável. Vale lembrar que as gerações anteriores também enfrentaram desafios semelhantes, como aprender datilografia e fazer cursos de Excel. É hora de reconhecer que o aprendizado digital é uma jornada contínua e que o apoio, a orientação e a paciência são essenciais para o desenvolvimento profissional e pessoal desses jovens.
Uma pesquisa da Deloitte revela que 83% da Geração Z busca um trabalho com propósito, almejando um mundo onde a diversidade e inclusão, a sustentabilidade ambiental e social, e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional sejam realidades tangíveis.
Adaptar-se a esses tempos de mudança é fundamental. É necessário abraçar uma cultura de trabalho remoto que valorize a flexibilidade e autonomia, enquanto métodos inovadores de treinamento, como a gamificação e simulações virtuais, possam ser eficazes na capacitação desses jovens. Programas de treinamento específicos podem abordar habilidades interpessoais, ferramentas de escritório e estimular o espírito empreendedor e inovador que reside em cada um.
Investir no desenvolvimento da Geração Z não é apenas uma necessidade, mas uma responsabilidade moral e econômica. Ao promover treinamento, desenvolvimento e uma cultura de trabalho inclusiva e flexível, estamos semeando as bases para um futuro. Estamos construindo um mundo onde todos têm a oportunidade de se destacar, lembrando que todos fomos aprendizes em algum momento e ajudar aqueles que estão ingressando no mercado de trabalho é essencial para um amanhã mais promissor.
*Fernanda Mourão é CEO da Futuro Labs e especialista em modelos de trabalho.