A empresa instituiu em 2022 o programa “Neon em Todo Canto” e não tem planos de trazer o time de volta à modalidade presencial obrigatória

Um contexto que vem sendo bastante questionado atualmente é o das mães que se empenham em conciliar a maternidade e a carreira, um plano que nem sempre dá certo. Um estudo conduzido pela Fundação Getúlio Vargas revela uma realidade difícil para as mães brasileiras que buscam equilibrar trabalho e maternidade: após 24 meses do nascimento da criança, quase metade delas já não está mais no mercado de trabalho, um padrão que se mantém até os 47 meses subsequentes. O levantamento identificou ainda que, das 247 mil mães pesquisadas, 50% foram demitidas aproximadamente dois anos após a licença-maternidade.

Na Neon, o trabalho remoto passou a fazer parte da realidade dos funcionários da fintech com o surgimento da pandemia do coronavírus em 2020 e se consolidou em 2022, quando a empresa instituiu o programa Neon em Todo Canto. A iniciativa oferece aos neowners, como são chamados os colaboradores, a possibilidade de organizar a sua jornada diária e realizá-la a partir de qualquer lugar do Brasil ou do exterior. “Com o Neon em Todo Canto, a ida ao escritório se tornou opcional, a critério do colaborador. Para aqueles que necessitam atuar presencialmente, oferecemos revezamento e plantões entre as equipes”, explica Fabiane Rosa, gerente de RH na Neon.

Neste ano de 2024, quando muitas empresas estão optando por obrigar seus funcionários a retornarem definitivamente aos escritórios, a Neon reforça a permanência do programa e acredita que a iniciativa traz muito mais benefícios que desvantagens, principalmente para as funcionárias da empresa que são mães. “A gente que é mulher e investe na carreira sabe como o mercado de trabalho pode ser cruel com as mães. É contra esse tipo de estigma que lutamos todos os dias aqui na Neon, buscando oferecer qualidade de vida a todos do nosso time sempre que possível”, reforça Fabiane.

Para Thaís Jorge, especialista em Employer Branding, o modelo remoto traz benefícios não apenas para ela, mas para toda a família. “Pode parecer pouca coisa, mas faz uma diferença enorme em nosso bem-estar a possibilidade de levar e buscar a nossa filha na escola, preparar a nossa própria comida e compartilhar melhor as tarefas domésticas. Eu sinto que o trabalho ocupa uma grande parte da minha vida, mas por ser remoto ele me permite escolher o que é prioridade com maior flexibilidade e isso contribui muito com a minha saúde mental”, afirma.

Jessica Rodrigues, analista de Prevenção à Fraude, que é mãe de um pré-adolescente, vê no home office a possibilidade de acompanhar de perto a rotina do filho em uma idade tão emblemática. “Todas as mães sabem que cada fase precisa de um cuidado diferente, por isso, vejo como uma oportunidade única poder me empenhar no trabalho e também conseguir dar toda a atenção possível a ele. Sinto que cada vez estou mais próxima a ele, consigo, no meu almoço, fazer algo que gostamos juntos, como ir à quadra ou até mesmo, só parar para conversar”, exemplifica.

Para a Bianca Gabriellen, analista de Atendimento de Redes Sociais, o trabalho remoto a apoia em uma situação ainda mais delicada que é a de ser mãe atípica. Ela optou por trabalhar no turno da madrugada para ter o período do dia livre para organizar a agenda de terapias do filho e conseguir cuidar dela própria. “Durante o dia, o meu filho está na escola, então, eu uso esse tempo pra cuidar de mim, seja com terapias, tomar um café na padaria sozinha, ir no salão, ou ir ao parque respirar um ar puro, por exemplo. O maior e mais comum erro de nós mães é esquecermos de nós mesmas como seres humanos e lembrar que não precisamos ser fortes o tempo todo”, alerta.

E o autocuidado é um ponto de atenção quando o assunto é a rotina de mães que trabalham. “Eu costumo dizer que desde que me tornei mãe, percebi que o equilíbrio não existe. O que existe é a busca por ele. Tenho aprendido a bloquear horários na minha agenda para afazeres que são inegociáveis, como levar e buscar minha filha na escola, tempo de foco, etc. Se não, a vida vira só reunião e sensação de culpa, a gente fica doente e ninguém ganha nessa relação, nem empresa, nem colaborador”, declara Thaís. Jessica aconselha que é preciso “lembrar que além de mãe, filha, esposa, colaboradora, existe uma mulher que precisa de cuidados, então olhe para ela, cuide dela, mantenha-a saudável e respeite os seus limites. Não é sempre possível entregar os 100% e está tudo bem, dê uma pausa, descanse, amanhã é um outro dia com outras oportunidades”.

Para Bianca, saber se organizar dentro de casa é fundamental para não se perder entre o pessoal e o profissional. “Tenha um lugar para você apenas trabalhar e, caso não tenha essa possibilidade, quando acabar o seu turno, guarde todo o seu material, ‘desligue’ o modo profissional e ‘volte’ para o seu lar!”, conclui.

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