A mudança obriga as empresas a mapearem não apenas riscos físicos, químicos e biológicos, mas também aqueles que afetam a saúde mental dos trabalhadores, como assédio moral, metas abusivas, sobrecarga, isolamento e insegurança emocional
A consultora de desenvolvimento organizacional, Mirella Ugolini, que atuou na Votorantim, Hering e Serasa na área de Desenvolvimento Humano e Organizacional, conecta a preocupação com a saúde mental do colaborador ao movimento de demissões em massa. Segundo o rastreador Layoffs.fyi, não chegamos nem mesmo na metade do ano e as demissões anunciadas pelas empresas de tecnologia em 2025 já atingem 23 mil cortes. De acordo com Mirella, que hoje está à frente do Soul Work,programa especializado em reposicionamento profissional para pessoas 40+, é importante a adoção de uma política humanizada de desligamentos.
Processos de demissão mal executados podem gerar insegurança e ansiedade nos funcionários remanescentes, aumento do turnover voluntário com uma possível perda de talentos, impacto na saúde mental e deterioração da cultura organizacional.
Profissionais de diversos níveis hierárquicos têm utilizado as redes sociais para relatar processos de desligamento frios e processuais, sem acolhimento por parte do RH ou da liderança direta. Isso acaba deteriorando o clima interno e desmotivando quem fica. Cria-se um clima de desconfiança entre os funcionários, que passam a não se empenharem da mesma forma, imaginando que seu esforço não será reconhecido ou que serão demitidos independentemente do quanto se dediquem ao trabalho. Essa é uma realidade que se vê inclusive em grandes empresas que, em teoria, possuem processos estruturados e pensados.
Mas afinal, o que é considerado bem-estar nas organizações?
Segundo Mirella, “o bem-estar nas organizações não é obtido somente com a realização de palestras ou atendimento psicológico, o colaborador deseja trabalhar em um ambiente saudável, e isso começa no relacionamento com sua liderança direta”, pontua a especialista. “É hora de enxergar o cuidado com o colaborador como estratégia de negócio, e não apenas como obrigação legal”.
Atualmente, os trabalhadores buscam mais do que bons salários: desejam um ambiente que permita crescimento profissional, aprendizado contínuo e relações de confiança. “A chamada “jornada do colaborador” deve contemplar ações de bem-estar desde o processo seletivo até o desligamento. Isso inclui práticas como programas de integração, avaliação de desempenho, feedbacks estruturados, desenvolvimento contínuo e até mesmo demissões humanizadas. Empresas que cuidam bem de toda a trajetória do colaborador tendem a ter melhores índices de engajamento e reputação”, pontua a especialista.
Segundo Mirella, fóruns de discussão estão sendo realizados para orientar os profissionais da área sobre as novas exigências. “O RH é o guardião das relações humanas dentro das organizações. É fundamental que esteja preparado para identificar, prevenir e atuar frente a esses riscos”, destaca.