Estudo da JOI Brasil aponta que a implementação de políticas eficazes e integradas pode ajudar a reintegrar milhões de trabalhadores ao mercado de trabalho
O Brasil enfrenta um crescente desafio no mercado de trabalho: o desemprego de longa duração. Segundo o estudo “Evidências sobre políticas de mercado de trabalho e implicações para o Brasil: assistência à busca por emprego”, realizado pela JOI Brasil, em 2022, 29% dos desempregados — o equivalente a 3,2 milhões de pessoas — estavam fora do mercado há mais de 24 meses, representando o maior percentual desde 2012.
A pesquisa identifica fatores econômicos, sociais e geográficos como os principais responsáveis por esse aumento. A dificuldade dos empregadores em contratar profissionais com longos períodos de inatividade gera um “efeito cicatriz”, ou seja, passam a ver de forma negativa o profissional que está fora do mercado de trabalho por muito tempo. Além disso, 4,4 milhões de brasileiros desistiram de procurar emprego, sendo as mulheres, pessoas pretas, pardas e indígenas a maioria desse grupo.
André Mancha, gerente da JOI Brasil, comenta que o estudo sugere que obstáculos enfrentados pelos desempregados de longa duração, como barreiras financeiras e falta de qualificação, podem ser superados com políticas públicas mais eficazes e integradas. “Exemplos internacionais, como subsídios de transporte na Etiópia e treinamento especializado na Alemanha, podem inspirar melhorias nos programas de acesso ao emprego no Brasil”.
O Sistema Nacional de Emprego (SINE) é a principal ferramenta pública de apoio à busca de trabalho, com mais de 1.400 unidades físicas e acesso digital. No entanto, o uso do SINE caiu de 3,81% em 2012 para apenas 1,81% em 2022, sugerindo um possível desconhecimento de sua existência e/ou sua baixa eficácia. “O sistema enfrenta dificuldades para captar vagas, o que limita o encaminhamento de candidatos a empregos adequados. Pesquisas indicam que mudanças na gestão e o uso de dados para monitoramento são fundamentais para melhorar sua eficiência. Embora medidas recentes, como o uso de tecnologias digitais, tenham sido implementadas, ainda faltam avaliações rigorosas dos resultados”, complementa André.
A JOI Brasil conclui que, para aumentar a eficácia do SINE, é fundamental utilizar dados e evidências para aprimorar suas ações e adotar sistemas de monitoramento. “Além disso, a articulação com outras políticas sociais pode ajudar a identificar barreiras adicionais, como a falta de habilidades e condições de saúde inadequadas dos candidatos a emprego.”
Barreiras à empregabilidade no Brasil
Entre as principais barreiras à empregabilidade, o estudo identificou dificuldades financeiras, limitações geográficas e falta de acesso à informação. “Iniciativas de outros países mostram que programas que identificam essas dificuldades e implementam soluções inovadoras têm obtido resultados positivos. Muitas dessas abordagens combinam psicologia e estatística”, explica André.
A utilização de tecnologias, como plataformas on-line de anúncios de vagas, tem se mostrado eficaz em outros contextos, fornecendo informações valiosas sobre o mercado de trabalho. “Treinamentos para o uso dessas ferramentas melhoraram os resultados na busca por emprego em sistemas internacionais. Também é necessário explorar como algoritmos podem ser usados para tornar o processo de busca por emprego mais justo, evitando discriminações de gênero e raça”, acrescenta.
Os dados do estudo destacam a realidade difícil do mercado de trabalho brasileiro, sendo que o desemprego de longa duração e o desalento afetam gravemente a economia e a sociedade. As desigualdades de gênero e raça agravam ainda mais essa crise, tornando urgente a criação de programas de assistência que enfrentem essas barreiras e promovam a inclusão efetivamente.
Para isso, é essencial aprimorar os serviços de assistência à busca de emprego e investir em políticas públicas mais eficazes e inclusivas. Avaliações de impacto contínuas são fundamentais para identificar o que funciona e o que pode ser melhorado nos programas existentes, como o SINE. “A colaboração com pesquisadores e especialistas é vital para desenvolver políticas baseadas em evidências que atendam às necessidades dos grupos mais vulneráveis”, conclui André Mancha.
O que é o J-PAL?
O Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL) tem como missão combater a pobreza global por meio de políticas públicas baseadas em evidências sólidas. A organização, que realiza avaliações aleatorizadas, utiliza uma abordagem inovadora para medir o impacto real de intervenções sociais.
Fundado por Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer, vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2019, o J-PAL conta com mais de 900 pesquisadores de 91 universidades ao redor do mundo. A organização conecta pesquisa e ação, promovendo a criação de políticas baseadas em dados concretos.
O J-PAL estabelece parcerias estratégicas com governos e organizações, influenciando debates sobre temas como proteção social e educação infantil. Ao longo de sua trajetória, já participou de mais de 40 projetos com organizações brasileiras, gerando impacto positivo com suas pesquisas e treinamentos.
Com forte presença em debates públicos e comprometido em transformar a vida de milhões de pessoas, o J-PAL segue criando pontes entre ciência e ação para moldar o futuro do Brasil e do mundo.
Em maio de 2021, o J-PAL lançou a Jobs and Opportunities Initiative (JOI) no Brasil, que possui parceria com a Fundação Arymax, a B3 Social, a Fundação Tide Setubal, a Potencia Ventures, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e o Insper.
Com o fortalecimento de ações inovadoras e do fomento às pesquisas rigorosas, a JOI Brasil busca qualificar o debate sobre o mercado de trabalho brasileiro e disseminar o conhecimento adquirido para governos, sociedade civil, empresas e fundações no País. Pesquisas ancoradas em evidência científica ajudarão a identificar o que realmente funciona e escalar os mecanismos que consistentemente impactam as vidas das pessoas.