*Vanessa Pacheco Amaral
Promover novos formatos de aprendizagem nas organizações é uma demanda crescente para fazer frente à velocidade das mudanças de mercado e das competências exigidas. Treinamentos tradicionais e universidades corporativas já não são mais efetivos para o desenvolvimento dos colaboradores. Em nossos projetos para grandes empresas, temos identificado algumas tendências, como: planos de desenvolvimento a partir do interesse individual de cada colaborador; a abertura de profissionais para atuar em áreas distintas da empresa; ambientes de aprendizado colaborativo; o crescimento de métodos práticos de conhecimento; o papel da liderança como exemplo e sistemas ampliados de capacitação, como treinamentos cruzados.
Neste artigo, vamos discorrer sobre esses novos modelos de aprendizagem nas organizações e contribuir com algumas recomendações para os gestores de pessoas diante desse novo contexto.
Desenvolvimento a partir do interesse individual
É cada vez mais importante mapear o interesse individual de cada colaborador em relação aos valores da organização. Colaboradores engajados estão mais propensos a aprender e aplicar novas habilidades. Atualmente, é possível criar planos de desenvolvimento individualizados, que levem em consideração os objetivos de carreira de cada um.
Nesse sentido, tenha em mente que:
- O aprendizado é uma responsabilidade compartilhada entre a organização e o colaborador;
- O aprendizado deve ser relevante não apenas para os projetos e entregas dos colaboradores, mas também para seu desenvolvimento pessoal e profissional;
- O aprendizado deve ser flexível e adaptado às necessidades individuais.
Abertura para atuar em áreas distintas
Para o upskilling (qualificação) e reskilling (requalificação), os colaboradores devem ter a oportunidade de atuar em projetos e áreas distintas. Isso não apenas expande seus horizontes, mas também os incentiva a adquirir novas habilidades.
Programas de job rotation ou projetos multidisciplinares facilitam essa abertura. Isso deve ser rotina na vida dos gestores, além de pauta essencial para o RH, que deve criar modelos que fomentem a aprendizagem integrada e por projetos.
Nossas recomendações:
- Sair de modelos transversais de aprendizagem e promover aprendizagem por projetos e grupos de trabalho, com resultados imediatos;
- Promover o desenvolvimento de habilidades estratégicas, como tomada de decisão e visão sistêmica, integradas às habilidades técnicas.
Aprendizagem colaborativa
Ambientes de aprendizado colaborativo, que incluam tutoriais e recursos acessíveis, incentivam a interação entre os colaboradores. Isso pode ser alcançado por meio de plataformas que facilitam o compartilhamento de conhecimento e com tutoriais internos.
A aprendizagem colaborativa é uma cultura que deve ser adquirida. Compartilhar experiências e resultados (com erros e acertos) é essencial para a criação de uma cultura de aprendizagem integrada aos valores da organização.
Nossas recomendações:
- Difundir o que foi aprendido com os resultados dos projetos e entregas realizadas. Essa cultura deve ser amplamente disseminada pelos gestores e alicerçada por programas de RH;
- Ações simples podem fazer a diferença, como divulgar em murais as lições de cada projeto.
Menos sistemas e mais prática
As plataformas de gestão de aprendizado (Learning Management System – LMS) podem ser usadas como complemento e reforço da aprendizagem, mas as organizações devem, cada vez mais, promover o conhecimento prático. As ferramentas online devem ser direcionadas para cursos teóricos, que aprofundem as habilidades e conhecimentos necessários para projetos específicos.
Nossas recomendações:
- Utilizar o LMS para aprendizagens personalizadas, mas jamais como a única fonte de desenvolvimento do colaborador;
- O RH deve estimular colaboradores e lideranças a expandirem seus planos de desenvolvimento individual (PDI) com projetos práticos e como complemento à aprendizagem teórica.
Aprendizagem pelo exemplo
A liderança desempenha um papel vital na promoção da aprendizagem, dentro e fora das organizações. Por isso, deve disseminar seu conhecimento, por meio de trocas diárias com suas equipes.
Líderes devem ser capacitados a incentivar o desenvolvimento contínuo de suas equipes e criar oportunidades de aprendizado, por meio de mentorias, coaching ou suporte para treinamentos externos. Em outras palavras, o líder deve ser um grande “Google” para sua equipe.
Nossa recomendação:
O RH deve fomentar o papel do líder como tutor da aprendizagem de suas equipes, com apoio de programas de mentorias e grupos de aprendizagem.
Aprendizagem ampliada é o caminho da colaboração
Ampliar a perspectiva de aprendizado, incluindo o cross training (treinamentos cruzados) e a troca de práticas com outras organizações, pode ser altamente benéfico. Parcerias e colaborações externas podem proporcionar insights e oportunidades de aprendizado.
Explorar os benchmarks (referências) de mercado amplia a perspectiva de aprendizagem. E buscar parceiros de aprendizagem compartilhada, com experiências de outros segmentos e organizações, estimula ainda mais o pensamento criativo e sistêmico dos colaboradores e da liderança.
Nossas recomendações:
- Oferecer bolsas de estudo para cursos e treinamentos externos;
- Benchmarks podem ser um começo, mas aprendizagem ampliada é mais do que isso
- Incentivar a participação em eventos e conferências;
Organizações que vêm aplicando esses novos modelos de aprendizagem têm gerado resultados positivos junto às suas equipes.
*Vanessa Pacheco Amaral é sócia-diretora na Ekantika Learning Lab. Executiva com mais de 20 anos de experiência em gestão estratégica e transformação de negócios voltados a pessoas. Atuou em empresas multinacionais e nacionais nos setores de hotelaria, serviços, farmacêutico, varejo e indústria. Especializada em projetos de transformação digital e organizacional, com foco na criação de estruturas ágeis e people centricity. Possui certificações em Green Belt, MBTI, PCI – Gestão da mudança.