Colaboradores especulam quanto valem suas habilidades mesmo estáveis em cargos de liderança
O jogador de futebol Dudu, do Palmeiras, recentemente, declinou de uma negociação com o Cruzeiro ao decidir permanecer no time alviverde. O fato gerou repercussão nos veículos de imprensa, os quais o relataram com certa surpresa. Entretanto, tal circunstância vai além das arenas esportivas e do universo da bola. Este é um movimento que muitos profissionais de diversos setores têm replicado nos últimos meses. Entenda o que os motiva.
Há muitas pessoas que, hoje em dia, exercem atividade laboral, mas fazem entrevistas de emprego — até mesmo on-line — procurando novas oportunidades. A finalidade disso é tentar compreender o que o mercado de trabalho tem a lhes oferecer neste momento. Muitos acabam participando de processos seletivos, sem querer de fato concorrer a vaga, apenas para barganhar melhores condições onde estão. Como, afinal, está o momento profissional desses indivíduos diante da conjuntura atual do meio corporativo?
Para Alex Araújo, CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, líder em saúde e segurança do trabalho, e gestor formado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), este fenômeno é uma maneira de interagir com todo o universo profissional que o cerca. “Isso está acontecendo bastante. Há casos em que o colaborador solicita o seu desligamento da empresa e quando o processo está começando a ser feito pelo RH, ele comunica desesperadamente o gestor, falando que decidiu ficar, que optou por continuar na organização, porque, provavelmente, o contato que este indivíduo teve com a nova empresa, de alguma maneira, frustrou as suas expectativas. Seja porque sentiu, talvez, que o ambiente não seria tão propício para a carreira dele, seja porque repensou e voltou atrás. Fato é que isto está ocorrendo bastante no mundo corporativo”.
Investiga-se, principalmente, a cotação das próprias habilidades diante de novas oportunidades. A prática ocorre principalmente entre aqueles que têm idade entre os 26 e os 36 anos. Questiona-se o que esses trabalhadores estão exigindo da sua área de atuação. Por isso, empresas estão aplicando mais testes e filtrando cada vez mais estes “treineiros”. Assim, aptidões como formação acadêmica, MBA, pós-graduação e experiência são cotizados por todo o segmento que o abarca. O que geralmente os motiva a fazê-lo é concluir a etapa universitária, por exemplo, e querer receber um aumento, que não chega. “A decorrência disso é que eles acabam se arriscando na tentativa de entender como eles seriam recebidos e qual salário eles receberiam. Eles acabam percebendo que a diferença neste quesito não é tanta. E, muitas vezes, os benefícios não são tão bons quanto os que ele já tem no lugar no qual trabalham. O mercado tem mudado neste aspecto. As pessoas somente procuravam emprego quando estavam descontentes; atualmente, elas querem compreender quanto vale o seu currículo diante do mercado”, afirma Araújo.
Entre os que se enquadram na Geração Z, que buscam qualidade de vida associada à jornada profissional, esta prática tem aumentado muito. “Cheguei a abrir vaga para atendimento com 20 candidatos, aplicamos o teste e apenas cinco chegaram à etapa final”, relata Araújo.
Esta não foi a primeira vez que o jogador palmeirense recebeu propostas de outros times para sair do clube. Entretanto, este foi o episódio cujas consequências ficaram mais evidentes. Dudu teve o mesmo comportamento que boa parte das pessoas, que, inclusive, estão na sua faixa etária, tiveram. “O que ocorreu com o jogador não é exclusivo. Ele somente reflete um fenômeno que tem sido replicado por diversas pessoas das mais distintas áreas profissionais. É necessário entender o que a dinâmica do mercado tem a nos comunicar. Esta é uma tendência que demonstra que há uma certa preocupação com os salários. Estuda-se muito, ganha-se pouco, muitas vezes”, argumenta o especialista.
Recomenda-se que o candidato, antes de procurar uma nova oportunidade, realmente tenha a certeza que ali há uma grande chance de mudança, seja financeira, profissional ou pessoal e aconselha a pensar duas vezes antes de tomar qualquer decisão. “Existem casos que não conseguimos reverter o pedido de demissão, já perdemos colaboradores nesta situação”, lamenta.
Veja três dicas para participar e se dar bem em processos seletivos:
Fale com o seu RH: os colaboradores devem ter mais contato com o RH. Caso haja necessidade, ele tem de levar as suas próprias documentações, atualizando o seu currículo interno. Lá, estão inscritos cursos que foram executados fora do ambiente de trabalho e a própria formação acadêmica. Informar o RH e os gestores de todos os procedimentos que este funcionário está executando para aprimorar a sua carreira.
Pondere e se autoavalie: o colaborador não deve somente levar em conta o ambiente de trabalho, ou o salário, ou os benefícios, isoladamente. Tem de se considerar a carreira que ele está construindo dentro da empresa. Exemplo: se ele já trabalha numa instituição por mais de 2 anos, já se construiu uma história dentro da empresa, os gestores já sabem do potencial dele e talvez já tenha sido feita até uma projeção de plano de carreira, o qual ele não esteja seguindo. Com isso, retarda-se o seu crescimento na empresa. É extremamente importante que o colaborador se autoavalie dentro do local de trabalho.
Entenda qual é o seu perfil: muitos profissionais estão olhando muito para as condições que o trabalho lhes oferece. Ou seja, há casos em que o indivíduo recebe todos os benefícios empregatícios em determinada instituição, mas decide ir para outro lugar porque este lhe ofertou mais dias em home office. Trocam-se anos de casa por uma experiência que depende da vontade deles. Muitos, contudo, se arrependem porque talvez não tenham se adaptado ao novo sistema; há casos em que alguns desses funcionários sentem falta do ambiente corporativo. É muito importante avaliar as próprias experiências para saber se realmente as expectativas estão conforme o perfil profissional do colaborador.
Peça um feedback: antes de tomar qualquer decisão ao buscar uma nova oportunidade, o colaborador deve pedir um retorno sobre o desenvolvimento do seu trabalho perante os seus gestores. É importante ter esse olhar de quem o gerencia. Somente ele pode falar se a pessoa está indo bem em suas demandas e dizer quais são as melhorias a fazer para alcançar novos objetivos ou um acréscimo de salário. É mais inteligente se autoavaliar e procurar um retorno dentro da sua própria empresa do que ir se arriscar no mercado.