Sob a ótica da indústria brasileira de tecnologia, a pesquisa inédita no país traz uma visão holística da realidade deste segmento, levando em consideração aspectos como: perfil das empresas e dos colaboradores, índice de satisfação, gestão, saúde mental, desafios de equidade de gênero e perspectivas sobre o mercado
A Strides Tech Community, comunidade que reúne as principais lideranças de tecnologia do País, acaba de anunciar os resultados da mais recente pesquisa, em parceria com a Endeavor, sobre o Panorama da Liderança Tech no Brasil 2023/2024.
Neste estudo inédito no Brasil conduzido pela Insights Tech Strides, braço de pesquisa da EdTech, é possível ter uma leitura holística da realidade do mercado de tecnologia no país, uma vez que a pesquisa levou em consideração aspectos como perfil das empresas e dos colaboradores. Os dados, cunhados a partir de entrevistas com mais de um mil líderes do setor, revelam desafios relativos à equidade de gênero, questões preocupantes sobre saúde mental e perspectivas do mercado. “O Panorama da Liderança Tech no Brasil 2023/2024 oferece uma visão aprofundada da atual situação da liderança de tecnologia no Brasil e informações que não tínhamos com detalhes”, destaca Cláudio Azevêdo, cofundador da Strides. “Estamos entusiasmados em compartilhar estes insights com a comunidade de tecnologia e esperamos que esses dados contribuam para o avanço e desenvolvimento contínuo do setor em nosso país”, comenta.
Principais dados que desenham o panorama do mercado tech no Brasil.
Insights sobre Perfis da Liderança Tech no Brasil
– Nível educacional muito elevado: diferentemente de outras indústrias, o aspecto educacional da liderança de tecnologia é excepcional, de tal forma que a maior parte possui pós-graduação ou MBA (52,89%).
– Remuneração: a maior parte destes profissionais (51,72%) informaram receber entre 15 mil e 22 mil reais por mês de remuneração, sendo mais recorrente a remuneração na faixa de 19,1 mil a 22 mil reais (22,41%). Com isso, nota-se que estas lideranças possuem remunerações atrativas, o que justifica a chegada de muitos profissionais na área de tecnologia em busca de melhores salários.
– Motivadores para Mudança de Empresa: os principais fatores relatados para troca de empresa foram a liderança ruim ou despreparada (18,37%), os salários ou benefícios inadequados (17,14%), e falta de desenvolvimento de carreira (16,73%). Analisando estes pontos é importante no âmbito corporativo que haja uma preocupação em oferecer salários e benefícios competitivos para atrair e reter talentos, investir na formação de líderes competentes e que promovam um ambiente de trabalho positivo e oferecer planos de crescimento de seus colaboradores.
– Principais Desafios como Líderes: no contexto atual, conduzir as mudanças estratégicas que impactam o time (15,23%), desenvolver os liderados (11,92%) e filtrar a pressão que vem de outras áreas (11,26%) são os principais desafios que as lideranças tech afirmaram que têm que enfrentar.
– Principais Desafios para Crescer na Carreira: 52% das situações que impedem a ascensão profissional das lideranças tech estão ligadas ao sentimento que precisam melhorar suas habilidades de comunicação (18,1%), a não saber o que a empresa considera necessário para que eles possam assumir uma posição acima (17,19%) e que nas empresas que trabalham não há a posição almejada (17,17%), seguido de não ter pessoas mais experientes como mentores (14,03%) e não saber dar visibilidade da capacidade para a empresa (12,22%).
– Sentimento em Relação ao Futuro: 78,5% das lideranças da área de engenharia e dados estão otimistas em relação ao futuro. Dentre os líderes da área que estão pessimistas, 34,78% dos motivos para tal são por acreditarem que o pior momento para o mercado de tecnologia ainda não passou. Já entre os líderes otimistas em relação ao futuro da área de dados e engenharia, 35,71% dos motivos para um futuro otimista são porque eles consideram que estão preparados para enfrentar possíveis mudanças no mercado.
Insights sobre a Relação com o Trabalho
– Adoção do Trabalho Remoto: cerca de 47% das lideranças tech entrevistadas adotaram o trabalho 100% remoto, indicando uma tendência de flexibilidade no ambiente de trabalho nas carreiras ligadas à indústria de tecnologia. Entre os líderes que trabalham em regime totalmente presencial, 44% são de empresas tradicionais. Já quem trabalha no modelo totalmente remoto, 41,38% são funcionários de startups, o que pode sinalizar antagonismo dos modelos de trabalho entre estes tipos de empresas e uma tendência. Interessante observar que o regime híbrido, com pelo menos um encontro presencial na empresa, foi adotado em sua maioria pelas empresas tradicionais. Isso pode demonstrar uma maior preocupação de algumas destas empresas em fornecer um modelo alternativo mais flexível ao modelo tradicional de trabalho, como política de retenção e benefícios.
– Realização no Trabalho em Regime Híbrido: profissionais em regime híbrido, com um ou dois encontros presenciais por semana, demonstraram alto índice de realização profissional, com 9 em cada 10 líderes se sentindo realizados ao final do dia. Este dado é importante, principalmente por este índice de realização no trabalho ser maior no modelo de trabalho híbrido com um ou dois encontros presenciais por semana do que no 100% presencial (55%) ou no 100% remoto (64%). Aprofundando os motivadores com a Comunidade, entende-se que o relacionamento presencial com outras pessoas no trabalho é um forte elemento para elevar a realização das lideranças, que em um regime 100% remoto passam muitos períodos de tempo sozinhas e sem sair de casa. Ao mesmo tempo, a possibilidade de ir apenas uma ou duas vezes ao escritório parece manter um equilíbrio maior entre momentos de mais interação, com momentos de mais concentração, evitando também deslocamentos desnecessários.
– Felicidade no Trabalho: Regime Remoto versus Regime Presencial: a pesquisa constatou que líderes em regime totalmente remoto demonstraram maior felicidade no trabalho (64%) em comparação com aqueles em regime totalmente presencial (55%).
– Felicidade no Trabalho e Retenção de Talentos nos Regimes de Trabalho: essa felicidade no trabalho tem reflexos também na vontade de permanecer ou não na empresa. Mais da metade dos líderes em regime híbrido (tanto 1 a 2 vezes quanto de 3 a 4 vezes na semana) não estão propensos a trocar de empresa no curto prazo. Enquanto isso, nos regimes totalmente presencial ou totalmente remoto já existe uma preocupação maior em poder trocar de empresa no curto prazo, principalmente em função da cultura da empresa, e em segundo lugar por questões financeiras.
– Felicidade no Trabalho por Tipo de Empresa: nas empresas de consultoria e nas empresas de software são onde há os maiores índices de felicidade no trabalho. Sendo 83,33% dos profissionais de empresas de software afirmaram estarem felizes no trabalho e nas empresas de consultoria este índice chega a 100%. No extremo oposto, ficam os E-Commerces (68,75%), as empresas tradicionais (67,86%) e startups (65,38%). Bigtechs (76,19%) ficam no meio do caminho.
– Desafios do Regime Flexível de Trabalho: apesar de trazer mais felicidade, o modelo também impõe desafios. Conforme o regime de trabalho se torna mais flexível, o tempo de dedicação previsto tende a ser insuficiente para realizar as tarefas, devido a fatores como excesso de reuniões, pedidos de trabalho não planejados e sobrecarga de trabalho.
– Barreiras à Ascensão Profissional: dificuldades na comunicação, desconhecimento sobre os critérios de promoção e a ausência de posições disponíveis foram citadas como principais barreiras à ascensão profissional.
– Motivos para Troca de Emprego: os principais motivos relatados para a troca de emprego incluíram liderança despreparada (18,37%), salários ou benefícios inadequados (17,14%) e falta de desenvolvimento de carreira (16,73%).
– Jornada de Trabalho: 56,07% das lideranças da área afirmaram que o tempo dedicado à empresa não é suficiente para executar suas atividades.
– Reunião e Pedidos Não Planejados como Grandes Vilões da Produtividade e do Turnover: os principais motivos pelo tempo de dedicação previsto ser insuficiente para realizar as tarefas são o excesso de reuniões (30,47%), os pedidos de trabalho não planejados (28,13%), a sobrecarga de trabalho devido a equipe ter menos pessoas que o necessário (18,75%) e sobrecarga por estar fazendo mais atribuições do que o previsto para o escopo do cargo (13,28%). Onde há excesso de reuniões, pedidos de trabalhos imprevistos e sobrecarga por excesso de atribuições fora do escopo do cargo, também temos entre 47% e 68% de líderes que consideram trocar de empresa no curto prazo. Apenas 35,29% dos líderes que realizam mais atribuições do que o previsto no escopo do cargo afirmaram estarem felizes no trabalho.
– Insatisfação com Salários: a pesquisa revelou que apenas 33,33% dos presidentes entrevistados estão satisfeitos com seus salários.
Insights sobre Diversidade & Inclusão
– Disparidade de Diversidade nas Altas Lideranças de Tecnologia: foi identificada uma menor presença feminina e de pessoas negras em cargos de alta hierarquia, sugerindo uma disparidade em posições de alta liderança, especialmente nos cargos de Diretor Sênior, Superintendente e C-Level, ainda ocupados majoritariamente por homens brancos.
– Disparidades Salariais entre Gêneros: líderes mulheres na área possuem salários 2,8% inferiores aos dos homens, com as maiores discrepâncias observadas em cargos de supervisão, gerência e direção, com diferenças que variam de 12% até 55,2%, no caso das mulheres gerentes jr. É notável a maior distribuição de mulheres com remuneração abaixo dos 11 mil reais. Cerca de 15% das mulheres estão nessa faixa de remuneração, enquanto apenas 5% dos homens se encontram nessa faixa, ou seja, existem 3 vezes mais mulheres recebendo menos de 11 mil reais em posições de liderança na área tech do que homens.
– Disparidades de Gênero por Tipo de Empresa: ao passo que a representatividade das mulheres nas empresas de consultoria apresenta um positivo equilíbrio de 50%, ainda há desafios nas bigtechs, e-commerces e startups, com participação entre 23% e 33%. O pior cenário fica por conta das empresas tradicionais, onde a representatividade de líderes mulheres é de 6,4%.
Insights sobre Saúde Mental
– Saúde mental: 94,1% dos fundadores de startups e scale-ups relataram ter vivido pelo menos uma condição adversa de saúde mental ao longo de sua jornada, com a ansiedade sendo a mais frequente (85,6%), seguida por burnout (37%), depressão (21%) e ataques de pânico (22%), segundo o estudo da Endeavor “Saúde e Performance de Empreendedores.
– Motivadores de Desafios Ligados à Saúde Mental: os sentimentos mais comuns da liderança na área são o de cansaço mental e/ou físico (18,33%), desânimo (13,15%) e dificuldade de concentração (10,36%). Apenas 12,35% das lideranças afirmam não sentir qualquer desafio relacionado à saúde mental.
– Relação de Felicidade no Trabalho e Saúde Mental: os líderes que não estão felizes no trabalho atualmente têm sentimentos de desânimo (22,94%) e cansaço mental e/ou físico (19,27%) mais frequentemente. Enquanto nos profissionais felizes não predomina nenhum dos sentimentos mencionados na pesquisa.
– Saúde Mental por Tipo de Empresa: a maior proporção dos líderes da área com burnout foi registrada nas startups (38,46%) e em contraponto às empresas de consultoria, onde não foi encontrado um número significativo de casos.
– Cuidado com a Saúde Mental: mais de 30% dos líderes da área fazem terapia e acreditam que esta é muito importante. Entretanto, a maioria, 42,99%, mesmo acreditando que é importante, não fazem terapia.
Insights sobre as Demissões em Massa na Área de Tecnologia
– Motivação para as Demissões em Massa: 33% das lideranças da área acreditam que as demissões em massa são motivadas pelo inchaço das equipes ocasionado pela adaptação ao período da pandemia de COVID-19. Não obstante, outros 31,25% tendem a acreditar que o motivo destas demissões foi pela dificuldade na entrega de bons resultados a curto prazo.
– Equipes afetadas: 43,38% das lideranças tiveram times afetados por demissões em massa. As reduções mais comuns foram entre 10% e 30% das equipes. E-Commerces e consultorias foram os tipos de empresas mais afetadas, com cortes mais significativos.
– Necessidade de Adaptação e Aumento de Escopo de Trabalho: 56,07% dos líderes afirmaram que estão fazendo um esforço para se adaptar a esse novo momento do mercado de tecnologia, pelo fato de as demandas de trabalho permanecerem as mesmas e de não haver previsão para novas contratações, com consequente aumento de escopo sem aumento de remuneração.
Nota Técnica
A pesquisa, que contou com uma abordagem abrangente, consistiu em 56 questões direcionadas a 1076 participantes. Entre os entrevistados, foram selecionados apenas aqueles identificados como líderes, resultando em uma amostra representativa de 1021 respostas. Esses dados foram submetidos a um rigoroso processo de tratamento e higienização, além de serem cruzados utilizando as ferramentas avançadas do Excel e Power Query.
Após essa fase inicial, foram elaborados tabelas e gráficos para visualização e análise dos resultados obtidos na pesquisa. Estes foram categorizados em tópicos pertinentes, oferecendo uma compreensão abrangente do cenário da liderança de tecnologia no Brasil. Além disso, os dados foram submetidos a uma análise descritiva minuciosa, utilizando percentuais, médias e totais, com o intuito de oferecer insights valiosos sobre as tendências e padrões identificados.