Explosão em caldeira em Cabreúva (SP)

Paulo Musa (*)

A explosão de uma caldeira metalúrgica em uma empresa localizada em Cabreúva, no interior de São Paulo, deixou cinco pessoas mortas e 30 feridas, além de um prédio destruído. Considerando o cenário preocupante de acidentes e perdas de vidas, a segurança do trabalho no Brasil é uma questão de extrema urgência. 

Neste contexto, soluções são apontadas para que episódio como esse sejam evitados, e, vidas, preservadas. Dessa forma, empresas podem recorrer a ‘Gestão de Riscos de Segurança do Trabalho’ ou, o chamado, ‘Gerenciamento de Riscos Ocupacionais’ (GRO). Esta ferramenta tem se mostrado fundamental na hora de dar respaldo a integridade física dos colaboradores, além de garantir a saúde mental, bem como a sustentabilidade e a produtividade das empresas.  

Em 1970, antes da criação das normas regulamentadoras, o Brasil era campeão em acidentes de trabalho. Atualmente, o país ocupa o 4º lugar no ranking mundial. Isso porque, as medidas preventivas adotadas ao longo dos anos foram cruciais para diminuir o número de acidentes nestes ambientes. No entanto, mesmo com os avanços, ainda há muito a ser feito.  

De acordo com o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, realizado entre 2012 e 2020, houve mais de cinco milhões de acidentes no ambiente de trabalho notificados no país. Isso reflete que o Brasil enfrenta um cenário alarmante no que diz respeito à segurança do trabalho. 

Ainda conforme o mesmo levantamento, em 2020, foram registrados 446.881 acidentes de trabalho notificados e 1.866 pessoas perderam a vida durante o exercício da função.  No ano seguinte, o número de notificações dos acidentes subiu 37%, alcançando 612.920. Já no ano passado, foram 2.538 mortes, registrando um aumento de 36%.  

Além dos custos humanos e sociais, os acidentes de trabalho geraram impactos significativos aos cofres públicos. Em 2022, foram concedidos mais de 148 mil benefícios a vítimas de acidente e 6,5 mil aposentadorias por invalidez. Além disso, os acidentes tratados no sistema de saúde público totalizaram 392 mil notificações e os custos associados a esses benefícios foram de cerca de R$ 17,7 bilhões.  

Analisando estes números, é fácil concluir que o cenário exige ações proativas das empresas e governos na promoção de ambientes laborais mais seguros. A GRO trata de um conjunto de medidas e procedimentos técnicos e administrativos que visam prevenir, reduzir e controlar os riscos presentes nos ambientes laborais. O objetivo dessa iniciativa é manter uma instalação operando dentro de padrões de segurança considerados toleráveis ao longo do tempo nas empresas.  

Essa abordagem tem sido amplamente utilizada em alguns países, estes considerados os mais seguros do mundo, como Islândia, Dinamarca, Irlanda, entre outros. Os quais tiverem resultados positivos, tanto para a proteção dos trabalhadores quanto para a preservação dos ativos e do patrimônio das empresas. A incorporação das práticas dessa gestão é uma forma eficaz de prevenir e reduzir acidentes, beneficiando o colaborador, as empresas e a produtividade do país. 

Entre os padrões fundamentais no conjunto de medidas, está a análise de riscos. A ação consiste na identificação sistemática dos perigos existentes no ambiente laboral, bem como na avaliação das consequências potenciais desses riscos. Dessa forma, é possível estabelecer medidas preventivas e corretivas para mitigar os perigos identificados.  

Em relação aos riscos presentes nos locais de trabalho, eles podem ser classificados como ambientais, ergonômicos e de acidentes. O primeiro, por exemplo, inclui fatores físicos, químicos e biológicos que podem afetar a saúde dos colaboradores. Já os riscos ergonômicos estão relacionados às condições de trabalho, como esforço físico intenso, posturas espontâneas e jornadas prolongadas. Por fim, a parte de acidentes engloba diversas situações de perigo que podem resultar em graves ocorrências. 

Outro fator fundamental incluso na Gestão de Riscos Ocupacionais é a análise de processos. Esse item visa identificar possíveis falhas nos procedimentos operacionais e estabelecer medidas para melhorar a eficiência e a segurança das atividades exercidas pelos trabalhadores. A combinação da análise de riscos com a análise de processos permite uma abordagem mais abrangente e eficaz na prevenção dos acidentes e das doenças ocupacionais. 

A segurança do trabalho no Brasil é uma questão que exige atenção e ação imediata. A GRO aliada à análise de riscos e de processos nestes espaços é uma estratégia essencial para promover ambientes laborais mais seguros e saudáveis. Tanto a adoção de práticas preventivas, quanto o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), são medidas fundamentais para reduzir acidentes e preservar a saúde e o bem-estar dos colaboradores.  

Cabe às empresas, governo e profissionais da área de segurança garantir o cumprimento das normas regulamentadoras (NRs) e promover a conscientização sobre a importância da prevenção. 

Paulo Musa

(*) Paulo Musa é consultor master em Segurança Empresarial e Residencial da ICTS Security, empresa de origem israelense que atua com consultoria e gerenciamento de operações em segurança. 

 

 

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